Zé do Periquito (1960)


A década de 1960 encontrou Amácio Mazzaropi realmente decidido em fazer história no cinema brasileiro. Apostando em tudo aquilo que aprendeu como ator contratado pelos estúdios da época, em especial pela poderosa (mas moribunda) Companhia Cinematográfica Vera Cruz, Mazzaropi vai construindo um modelo de indústria que não só catapultou seu nome, mas lhe rendeu muito dinheiro.

No aspecto criativo, sentimos o comediante atravessando um momento de grande ebulição. Sua insistência em trabalhar elementos popularescos, certas constantes do subconsciente coletivo brasileiro, foi, talvez o simples segredo do seu sucesso. É na década de 1960 que Amácio Mazzaropi faz os seus filmes de maior fôlego, com enredos intrincados ainda que óbvios.

Zé do Periquito é um desses filmes que associam o romance de dramalhão com aquele semi-realismo fantástico de fundo moral da literatura de cordel. O romance roliudiano entre o jardineiro Genó (Mazzaropi) e a Carmen, uma linda estudante filha de um empresário arruinado é o esqueleto narrativo básico do filme.

Os amigos-inimigos de Genó e Carmen percebendo a paixonite nascente entre os dois, criam uma série de planos para prejudicar o casal. É aí que Genó se encanta de tal maneira com a moça que, para conquistá-la, resolve sair do seu emprego de jardineiro e vai para outra cidade trabalhar com seu realejo, em busca de dinheiro.

Lá, Genó acaba fazendo uma estranha sociedade com a mendiga Pelanca (Geny Prado), que possui uma raiva absurda pela hipocrisia da cidade, e tem um saber enciclopédico sobre os podres de cada um. Os dois tramam então usar o periquito para desmascarar a cidade inteira. O “periquito que adivinha tudo” acaba se tornando a maior sensação, arruinando a cidade e dando a Genó uma pequena fortuna. Ele compra casa e carro, volta para se casar com Carmen, que é o que acontece. No entanto, os dissabores com o dinheiro são tantos que Genó acaba renunciando casa e fortuna, e volta para a profissão de jardineiro.

Entre peripécias quase fantásticas, que vai do sentimentalismo kitsch ao humor mais pastelão, Mazzaropi nos traz novamente a velha crença pedagógica dos males da riqueza, embora ele abafa um pouco o conformismo de Genó com a fala no final de que “pra estar rico tem que estar preparado”, o que o leva a trabalhar de dia e estudar de noite. Sua esposa Carmen, porém, muito mais jovem que Genó, possui uma abnegação despojada do idealismo dos anos 1950, que soa até quadro de humor do blog Testosterona. Mesmo sob a chancela do humor, é uma situação que pode parecer desconfortável para cinéfilos dos dias atuais. Mas é espírito do tempo, não podemos nos furtar disso. 

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