O Puritano da Rua Augusta (1965)
O filme O Puritano
da Rua Augusta pode facilmente figurar a lista dos clássicos feitos por
Amácio Mazzaropi. A história de um industrial conservador e careta em plena
época da explosão do rock'n roll é o mote para essa verdadeira crônica
de costumes da década de 1960. A trama é costurada, o enredo tem fôlego até o
final, tendo seus picos de humor e drama, fazendo de O Puritano da Rua
Augusta um todo orgânico coeso.
O filme traz a
atmosfera do seu tempo. Na década de 1960, a música de The Beatles era febre em
todo o mundo. No Brasil, o iê-iê-iê
da Jovem Guarda traduzia para o português a rebelião romântica do rock
produzido pelo quarteto de Liverpool, para assombro de artistas nacionalistas e
críticos de esquerda.
Na Rede Record de
Televisão, em 1965, Roberto Carlos - o então Rei da Juventude - tinha seu
programa todos os domingos, com um público impressionante. É nesse ano que RC
lança o álbum Jovem Guarda, que se torna um de seus maiores sucessos e
consolida o movimento no país. E considerado um dos mais influentes discos
nacionais de rock de todos os tempos.
A década de 1960
também foi a época da explosão do pentecostalismo que, na sua vertente mais
clássica, adotava um estilo de vida totalmente avesso à sociedade e à cultura
de consumo, pautando no puritanismo e no ascetismo contracultural. Os
pentecostais, por várias décadas, permaneceram presos a uma espécie de rígido
estereótipo de pureza e santidade. Estereótipo esse que Mazzaropi utiliza em
seu personagem Pundoroso e aos membros da "Liga dos Ciprianitas",
suposta seita que Pundoroso lidera.
Mesmo que em escalas
reduzidas, os choques culturais e morais entre Pundoroso e a família são em sua
essência os mesmos que a sociedade brasileira atravessava, uma época de grandes
transformações culturais, religiosas, estéticas, políticas, comportamentais e
musicais. Transformações que se acentuariam dentro do "reinado de terror e
virtude" instituída pela Ditadura Militar.
A Rua Augusta, célebre
por sua intensa vida noturna, ganha uma espécie de moralista ambulante,
ganhando, já no título, uma curiosa e irônica antítese.
O
Puritano da Rua Augusta ganha valor como reflexão e retrato de uma época,
principalmente com as tomadas feitas pelas principais ruas de São Paulo, nos
anos 1960. O ritmo da história, o fluxo de acontecimentos engraçados, tudo isso
ajuda para que o filme apresente um formato atraente para as exibições na TV.
Ao abordar o fanatismo
religioso, Amacio Mazzaropi nos traz uma comédia ousada, mesmo que a razão
apresentada por Pundoroso no final para justificar sua conduta no filme pareça
obtusa e sem sal.
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