Jeca e seu Filho Preto (1978)
Consta que, ao lançar Jeca e seu filho
preto em abril de 1978, os críticos ficaram divididos. A audácia de Amácio
Mazzaropi em discutir, à sua simplicidade, o racismo, não poderia passar
despercebida aos olhos dos seus detratores mais xiitas.
Mazzaropi já tinha encarado seu trabalho como
veículo em Jeca contra o Capeta (1975), ao debater o projeto de lei do
divórcio. Ou melhor, ele não debate, simplesmente o condena desde o início e a
história simplesmente segue o caminho para justificar a negativa.
É mais ou menos a mesma matéria de Jeca e
seu Filho Preto, embora aborde o problema do racismo e o alia às diferenças
sociais e culturais, ao insistir na personalidade maligna e retrógrada de
Cheiroso. Zé (Mazzaropi) é um empregado de Cheiroso, e possui um filho negro,
Antenor, que, apesar do amor e da educação que recebeu, ainda desperta
desconfianças de ser realmente seu filho.
Antenor namora desde criança a filha de
Cheiroso, mas com o tempo, o que era brincadeira acaba tornando-se coisa séria.
Os dois não conseguem ocultar por tanto tempo, e ao revelar o namoro acabam
sofrendo uma artilharia pesada de racismo e discriminação por parte de muitos,
principalmente de Cheiroso.
No final, se descobre que Cheiroso é pai de Antenor,
fruto de um estupro. Ao morrer a mãe biológica de Antenor ainda no parto, a
parteira usa de uma estratégia ridícula de dizer que era filho do Jeca. E é
tratado como filho “natural” desde então.
A “revelação bombástica” do final esvaziou e
muito o potencial de discussão do tema. Ainda que torne a figura de Cheiroso um
pouquinho só mais complexo que os vilões monotons da filmografia mazzaropiana –
pois fica no ar: ele impediu o casamento da filha por mero racismo ou porque
sabia que ele era seu filho? – ainda assim a consanguinidade, embora
funcionasse como um interessante elemento dramático, fez demolir o alcance da
abordagem do filme.
Mas a ousadia temática de Mazza merece ser
aplaudida de pé, mesmo com suas escandalosas limitações técnicas, seu humor já
cansado, e Hector Lagna Fietta aproveitando pedaços de trilhas de outros filmes
e costurando-os aleatoriamente, Mazzaropi consegue empurrar as massas à
reflexão.
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