O Lamparina (1964)

Consta que Glauber Rocha muito implicara com o clássico absoluto da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, o nordestern de Lima Barreto, "O Cangaceiro" (1953), por ser ele filmado nos planaltos paulistas, e não mostrar um mandacaru sequer.

Se ele tivesse visto "O Lamparina", teria sofrido um infarto.

Desnecessário dizer que essa película é uma paródia mazzaropiana da obra máxima de Lima Barreto. Depois de ter dado dois passos realmente megalomaníacos para seus estúdios, o Tristeza do Jeca (1961) e Casinha Pequenina (1963), elevando extraordinariamente o padrão técnico da PAM Filmes, Amácio Mazzaropi compra equipamentos no exterior, e se torna um dos pioneiros na utilização da tecnologia de som direto nas filmagens. Tecnologia essa que é utilizada em O Lamparina, gravada inteiramente na Fazenda Santa, ainda que no velho P & B.

É incrível constatar como as cantorias dos filmes de Mazzaropi têm alguma relevância dramática dentro do filme quando são feitas pelo próprio Mazzaropi. Ao invés daqueles protótipos de clipes, por artistas populares preocupados em lustrar a própria imagem e promover suas músicas. Nisso, "O Lamparina" acerta em cheio, dirigido pelo lúcido Glauco Mirko Laurelli.

Talvez Mazzaropi, com suas canções, quisesse dar aos seus filmes o tom de um "Walt Disney caboclo", um filme para ser visto e ser sentido por toda a família brasileira. Vale a pena conferir que "O Lamparina" foge um pouco do didatismo, do maniqueísmo quadrado, fato que sempre deve ser recebido como uma festa em toda a filmografia de Amácio Mazzaropi.
Embora a união entre um pastiche de western e o velho melodrama tenha seus momentos de altos e baixos, com seus encontros e desencontros e o happy end para lá de previsível, há boas piadas e interessantes diálogos.

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