Sansão e Dalila (1949)

Clássico hollywoodiano encanta com cenários imponentes

A trágica história de amor e desamor de Sansão e Dalila se encontra na Bíblia Sagrada, especificamente no Livro de Juízes, do capítulo 14 ao 17. Mas o Antigo Testamento possui uma narrativa muito econômica, onde tramas e personagens são pincelados, citados. O classicão épico de 1949 pegou o arco narrativo bíblico e recheou de subtramas e personagens secundários, além de dar contornos mais dramáticos ao casal mais famoso da História.



Cecil B. Demille (1881-1959) é sem sombras de dúvida um dos maiores diretores de todos os tempos. Conta-se que Demille o que tinha de genial tinha de arrogante e intratável, tratando os atores com rispidez e  autoritarismo "profissional". É até irônico pensar no inferno que seria o set, gritos e xingos do diretor por uma falhazinha boba do corpo de atores, para que o produto final derramasse uma arrebatadora leveza bíblica... Mas como todo mundo tem seus defeitos, ele foi um dos 36 fundadores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, dirigiu cerca de 80 títulos desde a era dos filmes mudos, produziu outros tantos, e criou toda uma "linguagem" para os trabalhos grandiosos, em cinema. Espiar os filmões megalomaníacos de hoje como Titanic e Avatar [James Cameron, 1997, 2009] é detectar traços indeléveis do grande mestre das antigas (inclusive na filosofia hitlerista de trabalho).



Quem vive o papel de Dalila é a belíssima vienense Hedy Lamarr (1913-2000), atriz, pianista e... inventora de um sistema de comunicação, na Segunda Guerra Mundial, que antecipou a telefonia celular. Morena bonita, sexy em seus donaires balzaquianos. A Dalila no filme não é só uma mulher perversa, e ponto final. Ela é uma mulher venenosa, uma mulher implacável, astuta, sagaz e sedenta de poder e riqueza. Que conhece bem as armas da sedução e da própria beleza. Mas também... é uma mulher que ama...

Que ama o arrogante Sansão, na pele de Victor Mature (1913-1999). Seu olhar caído tem um quê de Sylvester Stallone. E tem o porte altaneiro e garboso, da masculinidade estereotipada nas telonas de todo aquele período, mesmo que sua barriga esteja bem saliente.

Um milênio antes de Cristo, na Palestina, os judeus eram governados tiranamente pelos filisteus. Um homem muito forte e juiz dos israelitas, Sansão, é um desafio à ordem reinante. Porém, Sansão é um jovem confuso, como um boi que não sabe usar a própria força, e está apaixonado pela filisteia Semadar (Angela Lansbury), irmã de Dalila. Esboça-se um triângulo amoroso, embora a Dalila seja quem tenha personalidade mais forte, ao contrário de Semadar, confusa e boboca, loiríssima. Não será difícil para Dalila tirar a própria irmã do caminho...

Lá pelas tantas, Sansão lança uma adivinha que gera grande mal-estar entre os filisteus. Com traições, chamas e mortes consequentes desse incidente menor, tanto Semadar quanto seu pai morrem. Dalila escapa ilesa, mas decide se vingar.

Sua traição posterior toma ares de complexidade. Ela quer, a um só momento, vingar a morte do pai e da irmã, servir ao rei dos filisteus (o qual ela tinha um caso), mas também subjugar Sansão, submetê-lo ao seu domínio (sexual?), tê-lo acorrentado sempre ao alcance, vingar-se dele pela simples razão de tanto tempo ser trocada por Semadar...  No entanto, como tiro pela culatra ou castigo vindo de forças superiores, ela fica arrasada quando vê Sansão cego pelos filisteus. É demais para seu ego perverso e feminino admitir: Sansão... agora subjugado, mas... sem contemplar-lhe a beleza?

Mas, enfim, Sansão e Dalila fascina pelo cenário imponente, monumental, que enche os olhos mesmo com as cores estouradas do technicolor. E confere verossimilhança assustadora da mais pura e genuína magia cinematográfica, mesmo sendo um filme realizado nos idos tempos do guaraná com rolha.

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