Rio (2011)

" ...este samba... que é misto de maracatu..." (Jorge Ben Jor)


E LÁ FUI eu outra vez no lendário cinema Marabá. Se da primeira vez saí bobo por causa de um filme brasileiro com linguagem toda cheia da ação americana [Tropa de Elite 2, José Padilha, 2010], agora saí bobo por causa de um filme americano todo cheio de... brasilidade?


Carlos Saldanha é carioca nascido em 1965, cursou Mestrado em Artes na School of Visual Arts de Nova Iorque, e tido como uma das mentes mais brilhantes dos estúdios Blue Sky. Co-dirigiu A Era do Gelo (2002), Robôs (2005), e dirigiu a continuação da Era (2006, 2009). Rio é sua película mais recente.

Rio de Janeiro explode visualmente na telona. Há fidelidade, num roteiro ágil, engraçado, com muito samba no pé e ótimos personagens. O filme tenta fugir de estereótipos, e escapa bem dos vícios de Brasil Animado [Mariana Caltabiano, 2011], o longa nacional que tornou-se extremamente didático em mostrar os gastos emblemas da identidade nacional. Rio passa pelos clichês publicitários, e nem tinha como fazer o contrário: macaco, pássaro colorido, bondinho, Cristo Redentor, bunda, praia, a bossa nova, Carnaval, o chapéu de frutas de Carmem Miranda... Porém, fala também dos morros, do menor abandonado, do tráfico de animais.

Blu é uma arara macho que foi raptada no Brasil e levada para o exterior dentro de uma caixa. Com a caixa escapando do caminhão num quase acidente, encontra Linda, uma menina que promete cuidá-lo. Quinze anos se passam. Blu agora é uma grande arara azul domesticada, morando em Minnesota... que não sabe voar.

Um extravagante pesquisador brasileiro descobre a existência dessa ave. No Brasil, só há um espécime fêmea dessa raça. O pesquisador convence Linda a levar Blu para o Brasil, para a preservação da espécie.

É incrível notar como Linda se parece a típica turista em terras brasileiras, cheia dos medos americanos diante de um país tropical e exótico. E como os pássaros debochados que tornam-se amigos de Blu são irreverentes, atrapalhados, companheiros.

Dentre tantas peripécias, um bando de contrabandistas de animais, de macaquinhos salteadores, a história conta a busca da realização de Blu, de aprender a voar, e de "chegar junto" de Jade, a bela arara azul fêmea.

Há uma cena que muito me chamou a atenção, dos contrabandistas atrás das aves, correndo pelos becos da favela. Faz-me lembrar daquela cena em que vários caras correm atrás da galinha, no Cidade de Deus [Fernando Meirelles, 2002]. Intertextualidade? Possivelmente. O que garante a tese de que o filme também é um diálogo com o nosso cinema, com a nossa linguagem.



Grande homenagem ao Brasil feita por Carlos Saldanha. Bate um patriotismo como nas canções do Jorge Ben Jor; bate uma felicidade por ver esse carinho para um Rio de Janeiro poético mas não elitizado tranpor muros, mas entristece por saber que nós ainda não temos a grana e tecnologia necessária para fazermos algo desse naipe, aqui mesmo nesses solos maravilhosos.

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