Anetol Delmonte
Banda portenha independente encanta com som globalizado
A banda se apresentou naquela salinha inóspita (Sala Adoniran Barbosa) do Centro Cultural São Paulo, na última sexta-feira, feriado da Paixão. Ela participava de um evento temático promovido pela casa, o Festival Panelaço, que reuniu várias bandas latino-americanas.
Anetol Delmonte tem um som saboroso. Autodenominada uma banda de "eletrotango", ela é uma interessante banda independente portenha que não se enquadra em apenas um ritmo musical. Possui fronteiras indefinidas, de ecletismo tal que é impossível fazer qualquer analogia fácil. Ela configura bem essa nova geração de bandas indies que flertam com culturas distintas, passeiam pela música comercial, pela folclórica e pela música artisticamente engajada, formando um produto novo, híbrido, de musicalidade globalizada, como é o caso de Beirut, Gogol Bordello, Arcade Fire e DeVotchKa.
Da mesma forma que a nossa música popular brasileira bate repetida continência à brasilidade do samba, os argentinos fazem a mesma vassalagem para o romantismo melancólico do tango. Do tango clássico de Carlos Gardel (1890-1935) ao nouveau tango de Astor Piazzolla (1921-1992), Anetol Delmonte faz também ousadas misturas com sons e ritmos latinos, a cumbia, o merengue, a murga uruguaia, a valsa criolla, o mambo, a salsa, a guarânia, a milonga, sem contar o rock, o pop, a música eletrônica e o folk balcânico do velho e bom Goran Bregovic.
Com mais de dez anos de estrada, e três álbuns no currículo: "Trans La Sierra" (2002), "Hermosa Mañana para Morir de Felicidad" (2005) e "Fabula Simula Estimula" (2009), Anetol Delmonte retrata bem - quer no conteúdo das canções quer na plataforma sonora de suas melodias -, a nostalgia e a fragmentação de informação e canção de uma cidade metropolitana como Buenos Aires e o sentimentalismo exaltado de Palermo, cidade natal de seus integrantes.
A banda é formada por Leandro Rossi (guitarra, cavaquinho e voz), Ramiro López Chaplin (baixo e voz), Ramón De LaVega (guitarra) e Eduardo Bazán (bateria e programações).
Dançante, transbordante de lirismo e bom-humor, de letras irreverentes e de poesia ímpar ("Igor Mezquino", "Mediocre" e "Solo" possuem letras criativíssimas), Anetol Delmonte é uma dessas grandes bandas da música latino-americana contemporânea, que a gente conhece, se apaixona e nunca se cansa de espalhar.
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