RPM está de volta

A grande banda dos anos 80 tem retorno triunfal na Virada Cultural

Na praça Julio Prestes, o palco recebeu ícones do rock, do pop na 7ª edição da Virada Cultural, que tomou vários pontos de São Paulo nos dias 16 e 17 de abril de 2011. Rita Lee, Edgar Winter, The Misfits, Frejat, Plebe Rude e tantos outros. Mas o fechamento ficou para o RPM, com a mesmíssima formação dos idos 1985.

RPM foi a grande banda dos anos 80, e também a mais popular. Teve uma vida rápida, breve, mas com a força de um tufão poderoso. Foi um dos grupos mais bem sucedidos da música brasileira, quebrando recordes, se igualando ao quase todo-poderoso cantor Roberto Carlos, em matéria de vendagem de discos. De fato, RPM foi a última grande banda que usou e abusou das lantejoulas midiáticas.

Estava uma tarde agradável. Tinha muita gente, o cheiro da cerveja azeda cavalgando a atmosfera, e cigarro, e suor, e maconha fazendo certa presença. As pessoas se acotovelavam, e a todo momento passavam vendedores com caixas de isopor vendendo água e refrigerante a preços exorbitantes. Garotos andrajosos puxavam nossas canelas, em busca de uma latinha de alumínio, valiosa no meio daquela selva de pés.

RPM começou a tocar com meia hora de atraso. Gritinhos histéricos, palmas, depois de uma ameça de vaia pela demora. Ao contrário da banda anterior - Blitz -, RPM chegou cheio de sofisticados truques de iluminação, fumaça no palco, numa sisudez profissional. E tocaram. Continuam em forma. Juntos novamente depois de quase nove anos, desde o último álbum MTV Ao Vivo (2002). Sempre elegante, sempre na sua com seu peito de pombo, Paulo Ricardo, com justiça o cérebro da banda.

A abertura foi "Vida Real", a música que se tornou uma espécie de tema do último Big Brother. Tocou "Rainha", tocou "Crepúsculo", esta última uma música inédita, a figurar o novo álbum prometido para maio deste ano. Essas três músicas parecem pouco com os antigos sucessos que consagraram o grupo. São canções corretas, mas sem aquela verve dançante e lírica que só as clássicas proporcionam.

Percebendo que o público estava respondendo com pouca energia, RPM ataca com as históricas de seu repertório. 

Disfarça e faz

Que nem me viu

Não me ouviu te chamar

Desfaz assim de mim

Que nem se faz

Com qualquer um...

"Loiras Geladas" foi quem abriu a parte mais empolgante do show, bem como "Juvenília". Depois veio "A Cruz e a Espada" (homenagem a Renato Russo), a emblemática canção de Cazuza, "Exagerado"... e "London, London", de um exilado Caetano Veloso...

Cantar "Revoluções por Minuto" em coro com o público foi uma experiência belíssima, com toda a carga de retrô que possa nisso transparecer. A própria abertura da canção teve um quê de pirotécnico, que soou infinitamente superior que os arranjos do longínquo álbum de 1985. A letra que tem uma sacada paranoica, comunicativa e engajada, mantém-se atualíssima mesmo com o anacrônico verso "tem videocassete até". E superdançante, como todo o bom rock nacional da década mais divertida da História.

"Alvorada Voraz"... e mais uma superdilatada versão de "Rádio Pirata", com direito a citação de The Doors ("Light My Fire"), Rolling Stones ("You Can't Always Get What You Want"), Beatles ("All You Need Is Love") e Kings Of Leon ("Use Somebody"), prepararam o final do show que simbolizou com fartura de poesia o recomeço de uma das maiores bandas brasileiras de todos os tempos.

A canção tanto lasciva quanto ingênua "Olhar 43" fechou a apresentação com chave de ouro.  Bêbados cantavam desconexos a estrofe fantástica

Seu corpo é fruto proibido

É a chave de todo pecado

E da libido

E prum garoto introvertido

Como eu! É a pura perdição

enquanto uma noite maravilhosa se desenhava sobre nossas cabeças.

A nostalgia foi quem venceu neste show histórico, embora o vigor apresentado por todos os integrantes sinalizasse uma saudade fatalmente superada dos idos tempos de glória.

RPM está de volta. Com lançamento de álbum novo previsto para maio deste ano, bem como o início de uma turnê em todo o país. Os rapazes mostraram que têm fôlego para ainda brincar de sucesso. Vamos ver se toda a sua pujança criativa da década de 1980 não será amordaçada pelo espírito do nosso tempo: essa era do download, dos sucessos descartáveis e da paralisia da originalidade musical.