Mad Max – Estrada da Fúria (2015)

Mas afinal, o que vem a ser este “Mad Max 4”? Continuação? Releitura? Revisitação? Reboot?

Trinta anos após o último – e fraco – filme com Mel Gibson, é hora de Miller mostrar o seu valor. De lá pra cá, muita água passou por baixo da ponte. Miller continuou na ativa, ora levando os adultos às lágrimas, num dramalhão baseado em fatos reais – Óleo de Lorenzo (1992) –, ora levando às crianças interessantes reflexões sobre a aceitação do diferente e a luta contra o preconceito – como no bom “Babe – O Porquinho Atrapalhado na Cidade (1998) e no premiado “Happy Feet – O Pinguim (2006).

Mas é em Mad Max que Miller é facilmente reconhecido e lembrado.

O novo filme de Mad Max esmaga o público com um ritmo alucinado, de explosões, perseguição de carros, tiros, bombas. Solene e sisudo, Miller realmente assume a vocação da história para ser HQ, com vilões cartunescos, como que saídos de alguma saga da Marvel.

“Mad Max – Estrada da Fúria” não é um filme nostálgico, nem anacrônico, muito pelo contrário. Não é continuação, porque embora haja cenas que mantenham diálogo com os filmes predecessores, a trama é praticamente outra, independente.

A melhor maneira de fruir Mad Max 4 é encará-lo como uma “revisitação” – até porque o filme é fruto do nosso tempo, pois incorpora elementos dos atuais filmes-pipoca que mais se parecem com videogame. Em outras palavras, Mad Max 4 é um filme muito próximo de nós, mas muito, muito distante da trilogia consagrada com Mel Gibson.

Eis o gesto controverso de Miller: ele reconstruir seu próprio “clássico”.

O estranhamento é inevitável para quem se fez fã desde o primeiro filme (1979). E isso não ocorre só porque Tom Hardy assumiu – ainda que razoavelmente – o papel de Max Rockatansky. A estranheza está na mudança de “tom”.

Mad Max 4 é uma releitura modernosa, com suas pitadas de feminismo e ambientalismo – a água, aqui, vira relíquia, objeto de poder e opressão de um povo. Há também uma versão motorizada dessa religiosidade estranha dos nossos dias (leia-se fanatismo religioso) que leva jovens a matar e a se matar – como alusão clara ao terrorismo pós-11 de setembro.

Mas a perseguição sem fim é a locomotiva de todo o longa. Poucos diálogos, quase nenhuma explicação, e muito, muito ronco de motores. Se a saga Mad Max foi concebida como um “faroeste motorizado”, aqui toma proporções espetaculares.

O convencionalismo da narrativa vai abrindo caminho para o espetáculo. Miller faz de seu filme um balão de ensaio, em reempacotar todos elementos da mitologia do outback australiano pós-apocalíptico. Mad Max – Estrada da Fúria é o cúmulo high-tech de uma saga que já em 85 se esforçava em ‘hollywoodificar-se’, nem que para isso pagasse o preço de descaracterizar Max (como foi o caso do terceiro) ou relegá-lo a um segundo plano (como acontece aqui).

Até porque, digam o que quiser, a impressionante Rainha Furiosa (Charlize Theron) é a personagem principal.

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