Mad Max – Além da Cúpula do Trovão (1985)
Um
dia George Miller pisaria no tomate. Mas ninguém esperava que isso fosse
acontecer logo em Mad Max 3. Embora
seja o filme bem mais elaborado que os predecessores, o que vemos é um filme
estranho pra caramba, irregular, meio pastelão.
Os
cenários pomposos – com um quê demilleano –, o surgimento de novos e
interessantes personagens, a mulher forte (com Tina Turner no papel), as
coreografias de luta, todas essas coisas são acréscimos e investidas no filme
que demonstram um esmero de superprodução.
No
entanto, essas “incrementadas” em nada impedem que Mad Max 3 seja o menor da franquia. A começar pelo personagem de
Mel Gibson. Ele perdeu parte daquilo que o fazia tão próprio. O revanchismo de
Rockatansky perde lugar para certo cálculo, certa sabedoria e silêncio.
Miller
pesa nas tintas do expressionismo dos personagens, coisa que ele já trazia em
pequenas doses desde o primeiro longa. Mas aqui, o filme parece aderir com
maior apetite ao aspecto caricato, cartunesco, dos personagens.
Se
nos dois primeiros filmes, a ‘tosquidão’ era até encarado como parte integrante
da linguagem do filme – era o seu charme, o seu ‘elemento agregador’ –, neste
terceiro, o excesso hollywoodiano de capricho nos dá um filme cambaleante, insosso,
fraco.
Talvez
tivesse havido por parte do roteirista uma preocupação demasiada em parecer cult – até porque, a história tenta
flertar com obras cinematográficas e literárias tão díspares. Se desde o
primeiro filme – e aqui isso se torna mais evidente –, Max Rockatansky se
parece com o Pistoleiro Sem Nome (Clint Eastwood), no western “Por um punhado de dólares” [Sergio Leone, 1964], em Mad Max 3, vemos claramente as obras Peter Pan (J. M. Barrie) e O Senhor das Moscas (William Golding)
passeando nas cenas da tribo de crianças.
Várias
leituras, várias mensagens, vários arcos que não se fecham, várias
possibilidades que não se resolvem, um clímax que acontece cedo demais – e uma
perseguição de carros espremida no final.
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