Os Oito Odiados (2015)

Para quem vibrou com os ótimos Bastardos Inglórios (2009) e Django Livre (2012), assistir Os Oito Odiados pode soar, à primeira vista, como uma experiência menor.

Parece que Tarantino pegou gosto pelo western e só agora resolveu se especializar.

Oito pessoas odiosas. Nenhum herói. Só vilões. Trancafiados em uma cabana pequena demais para tamanha concentração de ódio, enquanto lá fora cai uma tempestade de neve. Essa é a premissa da mais nova película de Quentin Tarantino, oitavo filme de sua carreira.

As quase três horas de duração passam voando. Os Oito Odiados é um faroeste bem-humorado e denso. Com trilha "atmosférica" do lendário compositor, arranjador e maestro italiano Ennio Morricone (1928-), o homem que fez a trilha sonora de clássicos do western-spaghetti como: Por um punhado de dólares (1964), Três Homens em Conflito (1966) e Era uma vez no Oeste (1968). Não à toa, ganhou o Oscar de melhor trilha sonora.

Ao contrário da verborragia dos filmes anteriores que o consagrou, aqui vemos um roteiro ágil, com diálogos inteligentes, concisos e certeiros. Na maior parte do filme, trata-se de um teatro filmado. A tensão do filme se concentra na força dos diálogos, no suspense que se desenha no ar, afinal, há várias pessoas de altíssima periculosidade, cheias de segredos e desconfianças, contidas a contragosto numa hospedaria.

Como a história se passa em meados do século XIX, os diálogos são carregados pelos fortes preconceitos da época, sejam elas de cor, sexo, classe social, etc. A crueza das frases pode desagradar ouvidos sensíveis e conservadores.

No mais, Tarantino quer reviver o faroeste dos anos 1960. Além da trilha sonora, Tarantino "ressuscitou", de um modo extravagante, o formato Ultra Panavision 70, mais largo e de qualidade superior em relação aos formatos utilizados atualmente. Esse formato foi usado bastante em épicos dos anos 1950 e 60, como por exemplo Nas Trilhas da Aventura (1965), Ben-Hur (1959) e A maior história de todos os tempos (1965). E que não era utilizado desde o filme de aventuras Khartoum (1966), com Charlton Heston.

Mas é uma pena que no Brasil seremos privados de ter uma experiência cinematográfica completa. Não há mais projetores para cópias em 70 mm no País; a projeção será em digital, com metade das dimensões pretendidas por Tarantino.

Sobre a trama, talvez a única ressalva que se faça é sobre o personagem do Mexicano (Demián Bichir). Ele não foi devidamente "desconstruído". A primeira impressão prevaleceu, e não houve tempo para que ele se desenvolvesse na história. Todos os outros personagens, em maior ou menor grau, quebraram algum tipo de expectativa. O Mexicano não. Talvez ele servisse para demonstrar a desconfiança certeira (sagacidade) do Major Marquis (Jackson), embora esse palpite ruim soe óbvio demais para os padrões tarantinescos.

Mas mesmo assim, Quentin continua original, surpreendeu mais uma vez.


OS OITO ODIADOS
(The Hateful Eight)
DIREÇÃO Quentin Tarantino
ELENCO Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Walton Goggins e Demián Bichir
PRODUÇÃO (EUA, 2015, 167 min.)
AVALIAÇÃO ««« (ótimo)

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