O Exterminado do Futuro – Gênesis (2015)

Vivemos uma época de desconstrução dos clássicos. Se até o próprio George Miller – o criador da saga Mad Max – pretendeu “revisitar” (para o bem ou para o mal) a sua mais famosa obra, não é nenhuma surpresa que O Exterminador do Futuro – Gênesis tenha trilhado (quase) pelo mesmo caminho.
 
Eu digo “quase” porque, embora seja uma espécie de desconstrução, ela não contou – mais uma vez – com a batuta de Cameron.

Gênesis veio para arrumar a casa, limpar a bagunça, mas trocar os móveis de lugar. Ele parte do pressuposto que o terceiro (2003) e o quarto filme (2009) nunca existiram. Como um filho arrogante de Cameron, Gênesis não só quer ter brilho próprio, como tentar provar – do começo ao fim – que as histórias do pai não passavam de mentira.
 
A sacada é de mestre. Brincando com as linhas temporais, o filme tenta abalar os conceitos já cristalizados no primeiro (1984) e segundo filme (1991), relativizando-os. A rebeldia é essa. Cameron sempre foi uma barreira intransponível para a própria obra. Ele fez tão bem que parecia que nada mais havia o que ser feito. Ainda assim, Mostow e McG tentaram, à sua maneira, continuar com a trama, mesmo pagando um alto preço. Enquanto o filme de Mostow é lembrado como uma esforçada fan-fiction, o trabalho de McG é lembrado como um corpo estranho em toda a franquia.
 
Alan Taylor aprendeu muito com eles. De Mostow, Taylor pega o respeito de fã, a reverência, a continência para com o mestre. Já de McG, ele obtém a rebeldia, a quase agressividade de trilhar por caminhos próprios. É divertido ver a preocupação de Taylor de reconstituir fielmente cenas icônicas dos primeiros filmes, ainda que ressignificando-os. Aliás, Gênesis mostra, da direção ao roteiro, um trabalho de pesquisa, de quem se debruçou sobre todos os quatro anteriores.
 
O resultado é que Taylor fez praticamente um filme que lança boas perguntas e muitas pontas soltas e que poderão ser desenvolvidas em uma possível continuação. Ele explode com as bases daquele aspecto “definitivo” esboçado por Cameron em 1991, que prejudicou por muito tempo as tentativas de sequência.
 
Mas a comparação é inevitável. Gênesis não possui o traço econômico, enxuto, que pautou o início da franquia. Ele grita, se esperneia, soltando fogos, fazendo malabarismos, com surpresas e reviravoltas. É um produto inferior, mas o resultado é razoável. Ao contrário de muitos críticos puristas e saudosistas, achei a transformação de John Connor (Jason Clarke) em vilão o ponto alto do filme. Mas é aquela quebra de expectativa que todos os outros filmes pós-Cameron adotaram, de carona com o segundo. É uma fórmula, mas aqui é bem mais interessante por acrescentar algo novo, inovador.
 
Em Gênesis há um grande salto de qualidade. Entretém, diverte, empolga como o mais genuíno cinema-pipoca. No entanto, chegamos em 2015 com a sensação que Exterminador do Futuro virou uma franquia irregular, de altos e baixos, com surgimento de pastiches involuntários esmagados pelo gênio criativo de James Cameron.
 
Talvez o que o Exterminador precise seja não de mais uma continuação, mas de uma refilmagem. Um novo primeiro capítulo. Como as sagas de super-heróis, como os filmes Batman de Tim Burton ou de Christopher Nolan. Como os filmes RoboCop de Verhoeven e Padilha. Nesse aspecto, eu sou radical. O tempo já provou que Cameron está absorvido demais em projetos grandiosos para lançar um terceiro filme, no que isso realmente significa. O Exterminador ganharia se outro diretor fizesse a sua releitura, a partir de outra perspectiva, de outro olhar. Como nos quadrinhos. Inclusive riscando a cláusula pétrea, de que o papel de Terminator deva sempre ser de Schwarzenegger.

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