A Bíblia - Palavra de Deus ou de Homem? (1989)
Creio que nenhuma
instituição religiosa tenha tanta predileção à mídia impressa que as
Testemunhas de Jeová. É nítido que tamanhos esforços acontecem para fazer uma
obra educativa bíblica, mundial, mantida por donativos.
Por ser encarado
como uma “obra educativa bíblica”, não é de se espantar que esse livro, não
diferente dos demais, tenha uma linguagem e uma estrutura extremamente
didática. O estilo simples, descomplicado; os parágrafos curtos e numerados; a
diagramação agradável; a constante “conversa” com o leitor; as ilustrações
sempre coloridas; as perguntas no rodapé, fazendo papel de exercícios de
fixação...
As Testemunhas de
Jeová, a meu ver, são mestres na arte da escrita argumentativa. Em matéria de
construção textual, todo estudante de redação tem muito que aprender com as
TJ’s. O livro é embasado em farta bibliografia. O ritmo é sempre o mesmo,
rigorosamente plano, não há picos nem depressões. Não consegue ser chato ou
pedante. Os capítulos estão amarrados, coesos. O livro passeia pela
arqueologia, história, teologia, ciência, filosofia e literatura com
tranquilidade e pulso firme.
Já se percebe que é
um tipo de literatura voltado para um público escolarizado, de certa cultura e
classe social, em especial às classes médias dos centros urbanos. Embora
provocante, o livro funciona como um livro didático, uma apostila, uma
cartilha: faz uma análise aparentemente crítica, mas deixa quase nada para o
leitor pensar por si só. É uma obra que pega o leitor pela mão e vai. É uma
obra que sacia com respostas ao invés de inquietar com perguntas. As vozes
contrárias, discordantes, são diluídas nessa orquestra de convencimento. E a
bibliografia gringa dificulta um pouco a aferição dessas informações.
Por padronizar suas publicações, tudo que vem
das Testemunhas de Jeová tem um ar importado. Se por um lado, essa padronização
serve para fazer com que em todos os lugares do mundo se tenha um jeito
uniforme de comunicação, por outro falta um pouco nos identificarmos, por não
haver uma cor local. Pelas citações, nomes, dados estatísticos e referências
bibliográficas, o livro denuncia que foi nos EUA onde ele foi concebido e realizado,
apesar de se procurar um tom neutro, asséptico, “desgeografizado”.
O livro, no entanto, é eficaz em atingir a sua
premissa básica: que, no findar das páginas, o leitor se sinta interessado em
ler a Bíblia. E é aí que ele está a um passo de procurar os cursos bíblicos
semanais gratuitos que acontecem no Salão do Reino mais próximo.
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