Canção da Noite Silenciosa
Um número na agenda
é o que ainda restou
no quarto imenso, vaziotragado pelas lembranças,
pela ausência
que me corrói, que me arrasta
como águas perversas.
Na noite, ouço a cidade acordar
e sinto falta de ouvir a sua respiração,
dos seus dedos perseguindo os meus
estendendo assim
o sono, o sonho bom,
o calor da manhã,
o fim.
Agora o telefone anda mudo
há muito morto, em silêncio de pedra;
mas meus ouvidos nunca cansam de esperar
sua voz
as suas promessas, as suas mentiras
os projetos, os votos e também o perdão.
Mas é o silêncio
quem zomba da minha solidão e mágoa,
fazendo amá-la ainda mais
sem descansar.
Me esforço em parecer forte
mesmo ciente que eu errei também,
eu sei, eu sei, pra variar...
Fingindo que a vida continua,
eu ouço seus passos calmos em meus sonhos descoloridos.
Eu então me desperto depressa,
seguro uma lágrima,
e calo na garganta o seu nome, a tempo de disfarçar,
enquanto o número da agenda me chama.
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