Falando sério
Eu tive que dizer não. Era incompatível, eu sabia, tinha algo em mim que dizia "isso não vai prestar", "isso não é legal". As diferenças eram muitas, diferenças essas que chocam ao invés de completar, que brigam ao invés de trazerem as pombas da paz. Mas ela insistia, buscava, queria... Queria "ficar", dar umas bitocas, ser tocada com a diferença entre os sexos em evidência. Fiquei a pensar com as vozes que me perseguiam.
Porque essas vozes eram muitas, de diferentes matizes e ideologias. A menina era uma criança, mas vá lá, há quem diga que pouco importa a diferença das idades, toma-se por exemplo a Mallu Magalhães e o Marcelo Camelo, mesmo que haja controvérsia vinda dos psicólogos e dos formadores de opinião. Eu, com meus 20 anos, saudoso ainda com a marcante Copa de 94, e me aparece uma menina de 14 que nem viu isso. O saudosismo pode parecer ridículo, caro leitor, mas anos de vida são pacotes que carregam parte da alma de cada um. Cada um diga o que quiser, mas influi. Em tudo.
...Que queira me infantilizar, ou fazer-se sedenta diante da minha confusão. Pura e mera necessidade, beijar, ser tocada e tocar com mais calor, proximidade, nas poucas ou nulas palavras de quem não se conhece. Ficou numa linha desagradável o meu rol de valores. Fiquei numa bifurcação: de um lado, a estrada do que todo mundo faz; do outro lado, a estrada que conduz àquilo que realmente acredito.
Ficar não faz parte do meu estilo, beijar por curtir, felicidade que se busca no céu de outras bocas, fuga de si mesmo nas contrações espasmódicas das genitálias. Segundos que se gastam ao lado de uma pessoa, na impessoalidade das prostitutas, no pensar em si, nas táticas para saciar a própria fome.
No meu barraco espiritual, pendem no teto farrapos dos versículos que ainda ecoam de minha memória bíblica. Meus ideais são os ídolos que enfeitam tal qual pôsteres a parede do meu coração. E me vi num momento que poderia passar de largo, rasgar como papel velho, jogar fora, no mato, na fogueira. Ou ainda abraçar ao que mais tinha de meu, mesmo que vozes insistissem em desacreditar-me perante meus próprios olhos. E louco quem dizer que faço drama com isso.
Lá digo sim, apesar de não estar convencido da curtição dessa aventura pré-adolescente. E que no canto obscuro que ela mesmo já havia bolado, no lugarzinho discreto que ela já havia planejado para realizar sem cerimônias e sem zé-povinho algum o rendez-vous tão buscado, vontades se apalpam, eu me contradigo. Nos meus atos materializo a contradição, lambo aquela língua voraz e sedenta, passo meus lábios sem emoção no magro pescoço enquanto minha mão acende o que de tão quente nela já está. Ninguém verá, mas minha consciência ficará em crise. Ela não vai pesar, mas ficará em frangalhos diante daquilo que se sustentou com aquilo que em poucos segundos me fez duvidar.
"Não quero seu amor por um momento/E ter a vida inteira pra se arrepender". A canção encheu os meus ouvidos, mesmo não escutando nada, além do meu celular tocando freneticamente, ou o "plim" do msn acusando mensagens as quais eu não acredito. Não quero ser mais um na boca dessa menina, por uma horinha apenas, ou menos, e nada mais. Táticas, insistências, colocando-me na parede como uma cliente cheia de razão pedindo seu produto pago que não foi entregue. Minha boca(?).
As novas luzes do meu tempo não me provocam fascínio. Falar assim gera uma sensação desagradável, me sinto alienígena, ou um cara que nem mora neste mundo, um alienígena, de fato. No cardápio de experimentações, na pele colocamos uma vestimenta que todos aplaudem, fazemos caras e bocas com uma alma distante. É... a vida de uns bem que se parece a uma entrevista numa empresa de porte. Despersonalizar-se.
Ela mesma me disse que queria curtir, e isso traz para ela felicidade. Aí chegou o momento de valorizar-me mais, embora para muitos eu fizesse papel de bobo.
Não, não, não quero essas suas frases de promessa. Falando sério, vivo para aquilo que acredito. Se um dia mudar de ideia, amém. Mas agora não me pareceu uma razão forte.
Porque essas vozes eram muitas, de diferentes matizes e ideologias. A menina era uma criança, mas vá lá, há quem diga que pouco importa a diferença das idades, toma-se por exemplo a Mallu Magalhães e o Marcelo Camelo, mesmo que haja controvérsia vinda dos psicólogos e dos formadores de opinião. Eu, com meus 20 anos, saudoso ainda com a marcante Copa de 94, e me aparece uma menina de 14 que nem viu isso. O saudosismo pode parecer ridículo, caro leitor, mas anos de vida são pacotes que carregam parte da alma de cada um. Cada um diga o que quiser, mas influi. Em tudo.
...Que queira me infantilizar, ou fazer-se sedenta diante da minha confusão. Pura e mera necessidade, beijar, ser tocada e tocar com mais calor, proximidade, nas poucas ou nulas palavras de quem não se conhece. Ficou numa linha desagradável o meu rol de valores. Fiquei numa bifurcação: de um lado, a estrada do que todo mundo faz; do outro lado, a estrada que conduz àquilo que realmente acredito.
Ficar não faz parte do meu estilo, beijar por curtir, felicidade que se busca no céu de outras bocas, fuga de si mesmo nas contrações espasmódicas das genitálias. Segundos que se gastam ao lado de uma pessoa, na impessoalidade das prostitutas, no pensar em si, nas táticas para saciar a própria fome.
No meu barraco espiritual, pendem no teto farrapos dos versículos que ainda ecoam de minha memória bíblica. Meus ideais são os ídolos que enfeitam tal qual pôsteres a parede do meu coração. E me vi num momento que poderia passar de largo, rasgar como papel velho, jogar fora, no mato, na fogueira. Ou ainda abraçar ao que mais tinha de meu, mesmo que vozes insistissem em desacreditar-me perante meus próprios olhos. E louco quem dizer que faço drama com isso.
Lá digo sim, apesar de não estar convencido da curtição dessa aventura pré-adolescente. E que no canto obscuro que ela mesmo já havia bolado, no lugarzinho discreto que ela já havia planejado para realizar sem cerimônias e sem zé-povinho algum o rendez-vous tão buscado, vontades se apalpam, eu me contradigo. Nos meus atos materializo a contradição, lambo aquela língua voraz e sedenta, passo meus lábios sem emoção no magro pescoço enquanto minha mão acende o que de tão quente nela já está. Ninguém verá, mas minha consciência ficará em crise. Ela não vai pesar, mas ficará em frangalhos diante daquilo que se sustentou com aquilo que em poucos segundos me fez duvidar.
"Não quero seu amor por um momento/E ter a vida inteira pra se arrepender". A canção encheu os meus ouvidos, mesmo não escutando nada, além do meu celular tocando freneticamente, ou o "plim" do msn acusando mensagens as quais eu não acredito. Não quero ser mais um na boca dessa menina, por uma horinha apenas, ou menos, e nada mais. Táticas, insistências, colocando-me na parede como uma cliente cheia de razão pedindo seu produto pago que não foi entregue. Minha boca(?).
As novas luzes do meu tempo não me provocam fascínio. Falar assim gera uma sensação desagradável, me sinto alienígena, ou um cara que nem mora neste mundo, um alienígena, de fato. No cardápio de experimentações, na pele colocamos uma vestimenta que todos aplaudem, fazemos caras e bocas com uma alma distante. É... a vida de uns bem que se parece a uma entrevista numa empresa de porte. Despersonalizar-se.
Ela mesma me disse que queria curtir, e isso traz para ela felicidade. Aí chegou o momento de valorizar-me mais, embora para muitos eu fizesse papel de bobo.
Não, não, não quero essas suas frases de promessa. Falando sério, vivo para aquilo que acredito. Se um dia mudar de ideia, amém. Mas agora não me pareceu uma razão forte.
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Abç
Anderson