Carta

Moça,


Foi difícil encarar essa punhalada nas costas. Não sei o que passou na tua cabeça, se eu só quis o seu bem. Talvez as inseguranças que te acometem em um momento de crise a fizessem ficar desse jeito. Esse jeito esquivo e estranho que não é legal, nem inspira confiança.


Quando os fogos rasgavam os céus, senti artificialidade que você esforçava por ser natural. Não pude trocar palavras com você, e sorri com outras, tentei ser jovial, com passos ainda incertos, mas a orquestra não parava de tocar, nem os fogos de crepitar na vastidão do céu nublado, esquisito.


Passei por você. Seus olhos se negaram a me fitar, baixos, fitos em alguma imperfeição do piso. Com amigos de farra, a garrafa de champanhe saudava o ano que vinha, e aquele borbulhar espumante ardeu na minha garganta. E abraços corriam pelas famílias. O calor sendo expulso por um novato vento.


Cantei. Comi com glutonaria. Nós dois tentávamos passar por dissimulados, você mais ainda, visto que sua consciência perturbada se manifestava com clareza no vidro de sua face. Eu apenas absorvia os votos de mais plena felicidade.


De braços abertos para o futuro, me pareceu (e me foi inevitável) que eu daria as costas para você. Definitivamente.


Adeus.

Comentários

Anônimo disse…
Primeiro: nada é definitvo
Segundo: já desistiu da nobre moça?
Terceiro: glutonaria é um dos sete pecados capitais.

Abçs

Anderson Eugênio
Carlos A. Pontes disse…
Fatos da vida:

O que elas querem é pinto, amiguinho. A menos que sejam lésbicas, daí elas querem buceta - como nós, imagino. As coisas giram dessa forma... Fora isso, não há nada que você possa fazer para agradar ninguém.

Um bom texto, porém.

O amor foi uma invenção dos românticos, amiguinho... E cabeças rolaram na Revolução, não se esqueça.

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