Engenharia Poética?

Poema Menção Honrosa no XVII Concurso de Poesia Prof. Fabio Teixeira


Saindo apressado eu vou, mas não vou determinado;
Vou cambaleante,
Indeciso entre dois caminhos gigantescos, fortes e distintos:
Duas coisas que lutam entre si e se completam...


- Zero e um.


Na minha aventura estranha
(Aventura essa que nenhum livro quis contar),
Tento percorrer a senda mágica das palavras
Ainda com meu gibão de números e gráficos fazendo presença e escandalizando.


E minha luta é este poema
Onde apanho do sentimento ou tento de leve mensurá-lo
Com réguas, esquadros e paquímetros que não me dizem absolutamente nada.


Se engenheiro quero ser (e luto)
E se números da fria matemática me adotaram,
Não quero trair a mim mesmo quando canto esta minha elegia rouca e talhada a ferro,
E quando eu tento – mais do que pedra – ser algo mais humano, buscar um momento de lirismo que foge das minhas mãos rústicas, e ser às vezes emotivo, romântico, saudosista, fantasista, vivamente poeta,
Enquanto a realidade,
Com xícaras de desengano,
Me convida a apalpar a vida em vez de idealizá-la com romantismo.


A dúvida vira assim minha irmã e companheira;
Cresce e me arrasta quando sinto o meu cotidiano além de vivê-lo nas esquinas de minha história.
Caminhando vou como bêbado
Mas me esforço que uma reta falsamente perfeita ainda saia dos passos meus.


Ah! Meço, traço, corto, construo e calculo buscando originalidade;
Faço arte de ourivesaria naquilo que é incerto e tão impalpável,
E lanço maciços alicerces no Nada.
Se no fluxo elétrico de minhas impressões e sentimentos
Não consigo ser claro,
Percebo que minha meta não é alcançada
E de novo encontro a Ilusão atrás da minha porta.


Pois nessa ambigüidade, meu caro, eu lanço desafios e fujo deles como covarde
(Embora a hombridade de minha profissão me obriga a encará-los).
Amarro com força coisas que não podem jamais juntas ficar
E me alegro com o resultado.
Números e letras fazem briga, mas se entrelaçam,
Brincam na periferia do meu eu mortal, a linha tênue que separa a beleza do sonho e a bruteza da realidade;
Eu me confundo quando persigo razões no que é ilógico.
Até porque, neste meu delírio, eu me regozijo diante de um encanto absurdamente musical:
De ser da vida um eterno e louco aprendiz
E dela o mais fugaz dos professores!


Meu poema nasce então com duras retas e curvas sensuais.
Sobe os montes como pluma,
Aninha-se na palma de minha mão como moeda – e marca como tatuagem – ,
Enquanto eu às tontas caminho nessa minha quixotesca dualidade


E não quero parar mais.

Comentários

Thiago Borges disse…
Belíssimo poema, meu caro!

isso sim é arte...rsrs
Bok disse…
palavras complicadas não se fazem entender.. meu caro e napoleônico amigo fernando

Postagens mais visitadas