Acoxambrar
Há pouco tempo tomei conhecimento de uma expressão engraçada. Nas conversas muito malucas dos meus amigos de profissão e faculdade, ouvi em diversos contextos a palavra 'acoxambrar'. Poupe-se do esforço, meu caro - esta palavra não existe no dicionário. Aliás, eu nunca a vi escrita, e é bem possível que um outro a escreva com ch.
O que ela significa? Bem (glup!), buscar o significado dela é entrar numa caverna de controvérsias. Porém, sou levado a acreditar que 'acoxambrar' seja o mesmo que fazer uma 'maracutaia', uma 'gambiarra', um trambique. Ou, no dizer dos meus amigos engenheiros: "Não existe gambiarra, só um ajuste técnico emergencial'.
- 'Acoxambrou' legal - dirá alguém, ao ver uma maracutaia manifesta na sua praticidade. Entretanto, em outros contextos, 'acoxambrar' não é uma gambiarra formidável. Pois se uma gambiarra quebra regras e normas sem prejudicar o funcionamento, melhor a gambiarra será se ninguém souber que ela existe. E parece que 'acoxambrar' é fazer algo que não ficou devidamente debaixo dos panos...
A própria palavra já é um 'acoxambramento' de lascar. De onde surgiu? Olha, quando a gente não sabe de algo e tem a certeza que pouquíssimas pessoas pararam para pensar a mesma coisa, a criatividade voa. E tecemos explicações, teses, teorias. O aprendizado acontecendo no redemoinho das idéias.
Escrevi 'acoxambrar' com x porque ela tem raiz na palavra 'coxa' (pelo menos é o que eu acho). É gíria consagrada até pela crítica especializada: 'foi feito nas coxas'. Fazer algo 'nas coxas' é justamente fazer algo malfeito, algo sem uma engenharia necessária; enfim, fazer algo sem método, sem preparo, sem cálculo, sem dedicação.
... Isso nos leva a outros questionamentos, amigo leitor. Por que fazer algo 'nas coxas' significa uma péssima execução, um péssimo trabalho? Por que 'coxas' representam aqui um trabalho malfeito?
Um amigo meu, filósofo do bar que tem muita mulher de jeans apertadinhos, é taxativo: 'Pense em alguém carregando algo pesado. Pensou? Pense que ele carrega um objeto muito pesado e ele está com preguiça de fazer muita força. Ele ergue morrendo o objeto e, para aliviar-se do cansaço, ele apóia todo aquele peso nas coxas. O cara perde a agilidade, anda todo torto. O trabalho não rende porque ele faz nas coxas. As coxas imitam um esforço, chega a enganar. Esforço de verdade está nos ombros. Peão que é peão sabe o que estou falando."
Outro amigo vai por um lado mais pornográfico. "O cara não vai até o fim com a mina, faz nas coxas mesmo. É rápido pra ele, e ela sai do mesmo jeito que entrou no motel. E se bobear sai toda melequenta."
Muita gente rejeita o termo por parecer pejorativo. Em atalhos de cálculo, o meu professor de Física II ficou nervoso quando chamaram aquilo de 'acoxambro'. Isso evidentemente demonstra menosprezo ou ridicularização de um 'pequeno ajuste técnico emergencial' feito por quem manja do assunto - teórica e/ou praticamente.
E o intrigante nessa história toda é a origem do sufixo 'ambrar'. O motivo de sua existência talvez seja a sonoridade. Afinal, a palavra não tem radical latino, grego ou anglo-saxão. A própria palavra é um 'acoxambramento' lingüístico, e funciona como uma perfeita metalinguagem. É possível que tenha semelhança com a palavra 'ajambrado', gíria dos anos 50, 60, que significava um cara muito bem arrumado, engomado, 'nos trinques'. Porém o que falo é mera especulação.
Acoxambrar é uma ação muito safada. E se descoberto o 'acoxambro', o seu autor é exposto ao ridículo. Evidentemente senta na graxa, para dar jus a uma outra interessante expressão popular.
Comentários
Bom texto, bastante elucidativo!
Abraços,
Bruno!!!