Esquadrão Suicida (2016)

Se de uns tempos para cá, a DC/Warner está procurando seu grande filme, esse com certeza não é Esquadrão Suicida. Uma pena, visto que o filme até possui a sua graça, o seu charme particular.

Longe de ser uma obra perfeita, ES é divertido. Acerta no tom, tem um ritmo sensacional. Mas erra feio na trama, no enredo. A começar que muitos personagens não são desenvolvidos como convêm — agredindo a premissa contida no título. É realmente difícil entender que um filme seja intitulado com a palavra "esquadrão" mas toma partido de alguns integrantes apenas. A história se simpatiza rápido com a Arlequina (Robbie) e o Pistoleiro (Smith), relegando os outros componentes da trupe à condição de amorfos figurantes.

O roteiro foi finalizado às pressas, e a montagem também. Os fãs reclamaram, e com razão: várias das cenas mostradas no trailer sequer aparecem. Muitos desses "reajustes" de última hora ocorreram motivados pelo sucesso estrondoso de Deadpool [Tim Miller, 2016], lançado quando ES estava em etapa de finalização. A sombra de Deadpool, aliás, é grande demais em Esquadrão Suicida. Os efeitos das pesadas críticas em cima de Batman vs. Superman — principalmente pela sisudez sufocante — também se fazem sentir. Nesse instante, acredito que na cabeça dos produtores ressoou a profética e sinistra pergunta do sensacional Coringa de Ledger: "why so serious?". Por que ser tão sério, se o público quer humor?

E já que falamos nele, Coringa (Leto) está horrível em praticamente todas as cenas, mesmo aparecendo tão pouco. O personagem mais presente nos materiais de divulgação do filme tem uma participação pífia, apagada. É certo que ele é o personagem, digamos, desestabilizador do universo Batman, uma espécie de agente do caos. No entanto, todas as vezes que o Coringa surge é para desestabilizar a trama — no sentido péssimo da palavra. Sua presença pouco se justifica. Sem contar que sua caracterização afetada, cheia de maneirices, está mais para Chapeleiro Maluco que para o Coringa.

Os vilões são melosos, têm sonhos quadrados, conservadores. Talvez se trabalhado com mão competente, essa característica daria ótimo caldo para fazer humor.

Salta aos olhos o desempenho incrível de Viola Davis (no papel de Amanda Waller). Ela nos convence da chefa durona que não recua mesmo diante de monstros superpoderosos. E vale dizer que o desempenho de Robbie e Smith justifica o ingresso, eles defenderam bem seus personagens, acreditaram neles. Afinal, como já dissemos, são esses os personagens que mais aparecem, que foram melhor desenvolvidos — mesmo que suas falas sejam, em alguns momentos, desabonadoras.

O mesmo não ocorre com Magia (Delevingne), vilã patética e unidimensional, dona dos momentos mais constrangedores do longa. Sua motivação na trama é rasteira. Ela é, sem dúvida, o ponto frágil de todo filme enquanto história.

Meu comentário parece isolado entre os que assistiram, fãs ou espectadores casuais, mas senti alguns avanços nos filmes da DC. É claro que algumas indefinições prejudicam. 

A comparação é inevitável. ES e BvS têm similaridades, principalmente o descompasso entre forma e conteúdo. ES ganha em matéria de ritmo, leveza e humor. Possui uniformidade, apesar de tantos cortes secos e bruscos, apesar da montagem caótica. ES se aproxima mais do modelo ideal de filmes de super-heróis forjado pela Marvel, guardadas, evidentemente, as devidas proporções e a colossal distância. A DC está corrigindo rota justamente para isso.

Infelizmente, não foi desta vez que vimos aquele filme tão aguardado da DC. Só nos resta esperar o próximo e torcer para que os estúdios finalmente consigam acertar a mão.

ESQUADRÃO SUICIDA
(Suicide Squaid)
DIREÇÃO David Ayer 
ELENCO Will Smith, Margot Robbie, Jared Leto, Viola Davis e Cara Delevingne
PRODUÇÃO (EUA, 2016, 123 min.)
AVALIAÇÃO (bom)

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