Batman vs. Superman – A Origem da Justiça (2016)
Pois é, a minha recepção ao controvertido Batman vs Superman até que foi favorável. Acredito que isso ocorreu porque não vi o trailer, porque vi o filme bem depois da estreia, e ainda no conforto do home-video. Em outras palavras, meu contato com o filme foi casual, sem as grandes expectativas de fã.
O filme tem seus problemas, é claro. Mas na total conjuntura, eles não prejudicam as premissas básicas do filme, enquanto uma obra cinematográfica de fantasia: a magia e a diversão.
Após fazer uma ligeira observação nos números dos últimos grandes sucessos de bilheteria, é possível afirmar que nunca, na história do cinema mundial, se assistiu tantos e tantos filmes de super-heróis. Até bem recentemente, inclusive, os críticos e boa parte dos cinéfilos desprezavam o gênero, tachando seus filmes de fantasias comerciais na pior concepção da palavra. Isso, de certa forma, começou a mudar quando a Marvel começou a bagunçar o nicho das “adaptações de quadrinhos para a tela grande”, fazendo obras leves e divertidas, ganhando os aplausos do público e da crítica especializada... e conquistando os corações de uma galera não-consumidora de revistas e gibis.
Era de se esperar uma reação à altura da poderosa concorrente, a DC Comics, propriedade dos estúdios Warner. E nela se repousavam também pesadas expectativas. Há alguns anos, a DC está à procura de uma fórmula, de um estilo, que não só deixe sua marca registrada na concorrida indústria de filmes de heróis, como também lhe garanta expressivo sucesso comercial. É por isso que todo lançamento da DC traz consigo uma promessa, e com ela, ansiedades, frustrações e muita polêmica no boca-a-boca.
Foi o que aconteceu com BvS. E não só. O filme também não deveria apenas manter diálogo – e continuidade – com as duas principais sagas da DC, Batman e Superman, mas preparar terreno para duas outras séries futuras: Mulher Maravilha e Liga da Justiça, previstos para 2017.
É por isso que o filme tem essa cara de “filme do meio”: ele começa, e parece que muita coisa já aconteceu, e termina cheio de pontas soltas.
ESTILO GORDUROSO
A história é boa. E tem ótimos personagens. O roteiro tem força, tem voltas e reviravoltas, mas é prejudicado por certas deficiências, como o andamento claudicante e saltos de ritmo. Mas o maior problema é a mão pesada do diretor, Zack Snyder, famoso por trabalhos em que a forma exuberante sempre esconde um conteúdo irregular. Em BvS, a introdução é longa, detalhista e maçante. A segunda parte, focada nas cenas de ação, também parece se encompridar demais. O filme ganharia se houvesse maior poder de síntese, se tivesse uma hora a menos.
Snyder, a todo momento, quer provar que é um diretor talentoso, imaginativo, criativo. A gente percebe que ele é afeito à grandiloquência, ao excesso, ao épico kitsch. No começo, seu estilo gorduroso até impressiona, mas depois, chega a enfastiar. Câmera lenta usada sem parcimônia, muitos efeitos especiais, muita “poesia visual” desnecessária, trilha sonora excessiva, escandalosa, o mundo como sinônimo de Estados Unidos da América. Muita pirotecnia que lembra filmes de Michael Bay e Roland Emmerich.
Lex Luthor (Jesse Eisenberg) está engraçado. Ele é desprezível, passa bem a imagem do “mimadinho sem escrúpulos”. Porém, funciona mais como um alívio cômico do que um inimigo de porte. O típico “vilão-de-uma-tecla-só”: raso, caricato, cartunesco.
É interessante a caracterização do Superman (Henry Cavill) questionando-se, refletindo sobre o próprio poder e representatividade no mundo. Mas isso é atenuado, diluído, diante da insistência da história em colocá-lo nas cenas “fofas” e forçadas junto a Lois Lane (Amy Adams).
Dramaturgicamente, Ben Affleck é melhor que Christian Bale. Sua atuação é mais matizada, seus contornos psicológicos são mais complexos. É uma comparação perigosa, sem dúvida, até porque, em BvS, a concepção do Batman é outra. Aqui estamos diante de um Batman mais envelhecido, mais cínico, mais amargo, mais cansado e pessimista. Tornando-se, pois, o oposto ideológico de Superman, é interessante constatar a fragilidade / vulnerabilidade / impotência de Batman diante de monstros muito mais poderosos.
No final, a grande mensagem do filme é que nenhum alienígena, nenhum meta-humano é capaz de conter a quase infinita maldade humana. E que nessa luta desproporcional, é chegada a hora de heróis se unirem, debaixo de um mesmo guarda-chuva: a justiça.
Em resumo, BvS é um filme sério, solene, sisudo – até demais. Traz algumas questões e abordagens, mas não tem o alcance da ótima trilogia Nolan, que equilibrou bem filosofices com os cânones do cinema-pipoca. Vamos esperar se a DC acerta a mão na próxima vez.
BATMAN VS SUPERMAN: A ORIGEM DA JUSTIÇA
(Batman v Superman: Dawn of Justice)
DIREÇÃO Zack Snyder
ELENCO Ben Affleck, Henry Cavill, Amy Adams, Jesse Eisenberg e Diane Lane
PRODUÇÃO (EUA, 2016, 151 min.)
AVALIAÇÃO « (bom)
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