Indochina (1992)

Na década de 1990, Indochina foi o VHS obrigatório em videotecas promovidas por jornais, como Folha de S. Paulo e Jornal do Commercio. De uns tempos para cá, tornou-se em um filme difícil de encontrar, quer seja nas programações cinéfilas da TV paga, quer seja nos serviços de streaming na internet, etc.
Da talvez supervalorização ao virtual ostracismo dos dias atuais, Indochina resiste como um rocambolesco triângulo amoroso incrustado em uma guerra civil numa terra distante e exótica.
O filme mostra Eliane Devries (a musa francesa Catherine Deneuve) disputando o amor de um oficial da Marinha (Vincent Perez) com a filha adotada (a bela estreante Linh Dan Pham), na antiga colônia francesa Indochina (atualmente Vietnã e Camboja), nos anos 1930.
Indochina é um filme de época com tudo o que se tem direito. Tem amor, guerra, trilha sonora onipresente, cenários incríveis, figurino detalhista, fotografia deslumbrante. Registre-se que em 93 ele empalmou o Oscar de melhor filme estrangeiro, sem contar outros prêmios.
Todavia, há um andamento lento, solene e pesado que faz Indochina parecer um filme mais antigo que a época de seu lançamento. Há em sua estética algo que lembra “...E o vento levou” (1939) e David Lean dos anos 1960.
Os personagens flutuam, como barcos à deriva. Talvez só se salva a toda-poderosa Eliane Devries, sisuda e serena diante de um país em convulsão política e social e um coração quase a explodir. Mas há tanta classe, tanta elegância, que os personagens carecem de carisma, e as paixões têm falta de química.
Régis Wargnier não fez nada de relevante para o público médio nem antes nem depois do sucesso de Indochina. Sua “obra-prima” solitária é um retrato romântico, nostálgico, agridoce, com pretensões politicamente neutras – só que não – da espoliação francesa em território indochinês.
Wargnier está mais interessado no potencial novelesco da trama, e muito mais na faceta sentimental que histórica do período retratado. Por baixo de tanto melodrama – afinal é um dramalhão – sentimos o desconforto do diretor em filmar de frente a realidade do colonialismo. Que, apesar das muitas cenas de impacto, ainda é tratada com panos quentes, com esforços politicamente corretos, com um titubeante ponto de vista eurocêntrico – a voz de Eliane Devries.
Parece que Wargnier – e talvez toda a França em 1992 – fosse incapaz de compreender o que de fato aconteceu naquelas terras longínquas ou engolir que aquele povo aparentemente disperso e subjugado pudesse se tornar independente.
Em Indochina, a história perde para as imagens. Mas, ainda assim, não deixa de ser uma experiência cinematográfica válida.

INDOCHINA
(Indochine)
DIREÇÃO Régis Wargnier
ELENCO Catherine Deneuve, Vincent Perez, Linh Dan Pham, Jean Yanne e Dominique Blanc.
PRODUÇÃO (França, 1992, 153 min.)
AVALIAÇÃO « (bom)

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