A mulher de todos (1969)

Rogério Sganzerla (1946-2004) talvez seja o mais inventivo diretor que o cinema brasileiro já conheceu. Situado entre o hermetismo de Glauber Rocha (1939-1981) e a comunicabilidade de Mazzaropi (1912-1981), Sganzerla fazia cinema para debochar dos próprios cânones do cinema e, por extensão, da crítica cinematográfica da época.

A história parece simples. Ângela Carne-e-Osso (Helena Ignez) é uma jovem ninfomaníaca, casada com o magnata Doktor Plirtz (Jô Soares), mas que vive rodeada de homens, dos mais diversos tipos. Despreocupada, querendo viver do modo mais intenso e prazeroso possível, ela exerce um fascínio muito grande sobre eles, dominando-os, como uma vampira sexual. Ela morde, lambe, beija, transa, agride, chora, maltrata, corre atrás e abandona, sempre dona da situação.

A grande originalidade está, justamente, na força da personagem feminina, incrível para a época e até mesmo para os dias de hoje.

Agressivo, caótico, alucinante, folhetinesco, anárquico, o grande trunfo do filme é defender apaixonadamente elementos considerados “cafonas” e de “mau-gosto”. Transportando para as telonas o ideário tropicalista que, na mesma época, bagunçava os contornos que separavam a “alta” da “baixa” cultura, o gosto elitista do gosto popularesco na música popular, Sganzerla criou uma “pornochanchada cult”, fragmentada, um exercício de criatividade e inventividade.

À imprensa, na época de seu lançamento no final do ano de 1969, Sganzerla falou a frase que não só ajudaria a entender a proposta do filme, mas serviria de chave para o entendimento de toda a sua obra como cineasta: “Estou buscando aquilo que o povo brasileiro espera de nós desde a chanchada: fazer do cinema brasileiro o pior do mundo”.

A MULHER DE TODOS
(idem)
DIREÇÃO Rogério Sganzerla
ELENCO Helena Ignez, Jô Soares, Stênio Garcia, Paulo Villaça e Antonio Pitanga
PRODUÇÃO (Brasil, 1969, 93 min.)
AVALIAÇÃO (bom)

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