Transformers 3 - O Lado Oculto da Lua

Ícone da cultura nerd afronta a inteligência menos exigente

Desconfiem de seus livros de História. A corrida espacial, o palavreado épico de Neil Armstrong em solo lunar, até mesmo o desastre de Chernobyl escondem planos bem mais instigantes. O filme reinterpreta isso tudo tendo por pano de fundo a luta dos Autobots, e uma nave complicada vinda de Cybertron caída na Lua.


Vendendo essa ideia conspiratória, o filme até que poderia ter poderosa eficiência para entreter. Mas não. O que se vê é uma gigantesca história (2 horas e 37 minutos) se arrastando como a mais danificada das carroças. Com diálogos pífios, alguns lances de humor sofríveis pontuado por um romance pasteurizado e cafona, o filme se sustenta como história, enquanto absurdas cenas computadorizadas é seu essencial esqueleto visual.

A belíssima modelo Rosie Huntington-Whiteley  é Carly Spencer, o novo amor de Sam Witwicky (Shia LaBeouf), já que a Megan Fox se desligou da série por causa de desentendimentos com o produtor Steve Spielberg e o diretor Michael Bay.


Sam foi condecorado por Obama, é herói nacional, mas é um cara que sofre uma estigma muito forte por ter trabalhado para os militares. Vivendo do passado, e tentando a sorte, ele é praticamente sustentado pela belíssima namorada, que trabalha para Dylan (Patrick Dempsey), um ricão inescrupuloso que, para manter o óbvio, está interessado em sua empregada.

E vemos uma cidade superpopulosa de minas gostosas. Empregadas com decotes mimosos, vestidinhos justos, coxões ultra depilados e moldados pelos ferros da academia. Secretárias com olhares sonolentos e boca vermelha semi-aberta, como ensaios fotográficos da Playboy.

Trama periférica que é, parece até um corpo estranho dentro da peleja épica entre os Decepticons e os Autobots. Um robô barbudo (?) é encontrado nos destroços da nave que repousa em solo lunar. Trazido à Terra, ele então percebe que entre os humanos, todos eles são tratados como máquinas, enquanto no mundo deles (destruído), eram tratados como soberanos.

E lá vai ele querer juntar todos os humanos num mutirão escravagista para reconstruir o seu planeta.

Tudo bem, ele está interessado nos 6 bilhões de seres humanos como mão-de-obra gratuita. Mas depois, começa a dizimar todo mundo, matando, destruindo, matando outra vez.

O filme primou numa "limpeza estética" ao mostrar as pessoas correndo, no pânico apocalíptico das cidades sendo reduzidas a pó. Só gostosinhas e fortinhos correndo, gente magra, entre 20 e 35 anos, como figurinos dos comerciais de margarina. Até a belíssima Carly: atravessa de salto alto prédios tombando, carros explodindo, metrôs sendo arremessados pelos ares, e no final, a vemos triunfante com uma marquinha de fuligem na testa, o cabelo imponentemente penteado, o branco da roupa intacto e o batom fresco e molhado nos lábios. Ora, vá.

Os robôs recitam num inglês literário ditos hiperbólicos, quase bíblicos. Até parecem que frequentaram as aulas de Oxford e leram desde cedo Alexander Pope e Lord Byron.

Em cenas estonteantes, com frases gastas e momentos clichês, em sequências super exageradas de destruição, onde existem só para saciar uma vontade anti-artística de técnicos em computação gráfica, que são talentosíssimos no visual... o filme é uma epopeia que faz o caminho mais longo para chegar a lugar nenhum.

Corre. Corre. Pega. Fogo. Foge. Ai. Cablam. A câmera gira, gira, torce, retorce, vira vira lobisomem. A plateia fica sem ar, sem fôlego... sem cérebro.

É incrível como Michael Bay, que dirigiu Armageddon e Bad Boys tenha assinado essa certeira afronta a tudo o que entendemos por verossimilhança e realismo. Bebendo da cartilha do sci-fi non-sense 2012 [Roland Emmerich, 2009], Transformers 3 tem, porém, o mérito impagável de divertir com seus crassos deslizes técnicos.

Comédia do ano.

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