Valsas de Viena (1933)
Retrospectiva completa do grande gênio do suspense no CCBB e no Cinesesc
A oportunidade a bem dizer ímpar de ver de perto a genialidade desse grande cineasta está rolando. O Centro Cultural Banco do Brasil está apresentando as obras de Hitchcock. No CCBB do Rio de Janeiro, a mostra será até o dia 14 de julho, e em São Paulo, até o dia 24 de julho. Paralelamente, o Cinesesc São Paulo presidirá a mostra entre 8 a 17 de julho. Alguns filmes são raridades de deixar qualquer "garimpeiro" cinéfilo babando, em projeção invejável em 35mm.
No último domingo eu fui conferir "Valsas de Viena", uma obra extremamente rara, desconhecidíssima, de 1933. O filme, que nada mais é que um musical, pertence à "primeira fase" de Hitchcock, a fase britânica. A história - adaptada da peça de Guy Bolton (1884-1979) - se passa em Viena, em meados do século XIX. Johann Strauss Jr. (1825-1899) (Esmond Knight) é um jovem músico talentoso, que tem sua musicalidade sufocada pelo pai disciplinador rigoroso, o velho Strauss (1804-1849). Forçado pelo pai a esquecer a música trabalhando na confeitaria dos pais de sua namorada, Rasi (Jessie Matthews), e sofrendo os ciúmes da moça por causa de um pedido especial de uma rica condessa, Strauss Jr. terá que ser forte o bastante para confiar no próprio talento, e desvencilhar-se de inevitáveis divisões.
Ao contrário do que se espera, o filme não é um suspense. Tem aliás um ar super bem-humorado, de comédia. Tem uma narrativa leve, ágil, com cenários bonitos, e de um frescor inigualável, mesmo se tratando de uma senhora película. O enredo é rocambolesco, cheio de complicações nas ações dos personagens, com elegância e desenvoltura que os filmes de hoje carecem. Embora seja uma espécie de "ficção biográfica" de Johann Strauss Jr, das desventuras amorosas e decepções familiares que culminaram na composição do belíssimo Danúbio Azul, o filme não demonstra o gênio do suspense que nasceria anos depois, mas já denuncia um diretor lúcido e extremamente consciente das técnicas de envolver suas plateias. E é de um estilo profundamente moderno, mesmo para nós.
Alfred Hitchcock não possuía boas lembranças deste filme. "Era um musical sem música, muito barato. Não tinha nada a ver com o meu trabalho habitual. De fato, nessa fase a minha reputação era muito ruim, mas ainda bem que eu nem desconfiava. Não era nenhum problema de vaidade, mas simplesmente no fundo eu estava convencido que era um diretor de cinema."
Tudo bem, Hitch, o filme não é nenhuma obra-prima. Tudo bem que esse filme parece bem um "corpo estranho" nos vários suspenses que Alfred construiu numa carreira brilhante. Mas é incrível como um filme nos dá uma sensação de saciedade, que nos diverte, que nos faz simpatizar com os personagens, e nos envolver completamente. E nesse "musical sem música", podemos apreciar a valsa Danúbio Azul sendo executada na íntegra... muito antes do sintético 2001, Uma Odisseia no Espaço [Stanley Kubrick, 1968].
Alfred Hitchcock (1899-1980) é o mestre inconteste dos filmes de suspense. Com uma carreira que atravessa cinco décadas, dos anos 20 aos 70, desenvolvidas em dois continentes (Europa e América) e que percorre tanto o cinema quanto a televisão, Hitchcock é uma das figuras mais influentes da história do cinema. Podemos observar tal fato nos imitadores, que nos dias de hoje são muitos: Woody Allen, Brian de Palma... Embora alguns da crítica especializada o tachem de "formalista", por ser Hitchcock um "incansável pesquisador de formas e imagens", nas palavras de Luiz Carlos Merten, ele com certeza revolucionou a história do cinema, como linguagem, já que conseguiu como poucos imprimir a ambiguidade, o voyeurismo, o olhar da dúvida e, com isso, envolver o público em uma atmosfera de expectativa e medo... que ainda hoje arrebata fãs do mundo inteiro.
A oportunidade a bem dizer ímpar de ver de perto a genialidade desse grande cineasta está rolando. O Centro Cultural Banco do Brasil está apresentando as obras de Hitchcock. No CCBB do Rio de Janeiro, a mostra será até o dia 14 de julho, e em São Paulo, até o dia 24 de julho. Paralelamente, o Cinesesc São Paulo presidirá a mostra entre 8 a 17 de julho. Alguns filmes são raridades de deixar qualquer "garimpeiro" cinéfilo babando, em projeção invejável em 35mm.
No último domingo eu fui conferir "Valsas de Viena", uma obra extremamente rara, desconhecidíssima, de 1933. O filme, que nada mais é que um musical, pertence à "primeira fase" de Hitchcock, a fase britânica. A história - adaptada da peça de Guy Bolton (1884-1979) - se passa em Viena, em meados do século XIX. Johann Strauss Jr. (1825-1899) (Esmond Knight) é um jovem músico talentoso, que tem sua musicalidade sufocada pelo pai disciplinador rigoroso, o velho Strauss (1804-1849). Forçado pelo pai a esquecer a música trabalhando na confeitaria dos pais de sua namorada, Rasi (Jessie Matthews), e sofrendo os ciúmes da moça por causa de um pedido especial de uma rica condessa, Strauss Jr. terá que ser forte o bastante para confiar no próprio talento, e desvencilhar-se de inevitáveis divisões.
Ao contrário do que se espera, o filme não é um suspense. Tem aliás um ar super bem-humorado, de comédia. Tem uma narrativa leve, ágil, com cenários bonitos, e de um frescor inigualável, mesmo se tratando de uma senhora película. O enredo é rocambolesco, cheio de complicações nas ações dos personagens, com elegância e desenvoltura que os filmes de hoje carecem. Embora seja uma espécie de "ficção biográfica" de Johann Strauss Jr, das desventuras amorosas e decepções familiares que culminaram na composição do belíssimo Danúbio Azul, o filme não demonstra o gênio do suspense que nasceria anos depois, mas já denuncia um diretor lúcido e extremamente consciente das técnicas de envolver suas plateias. E é de um estilo profundamente moderno, mesmo para nós.
Alfred Hitchcock não possuía boas lembranças deste filme. "Era um musical sem música, muito barato. Não tinha nada a ver com o meu trabalho habitual. De fato, nessa fase a minha reputação era muito ruim, mas ainda bem que eu nem desconfiava. Não era nenhum problema de vaidade, mas simplesmente no fundo eu estava convencido que era um diretor de cinema."
Tudo bem, Hitch, o filme não é nenhuma obra-prima. Tudo bem que esse filme parece bem um "corpo estranho" nos vários suspenses que Alfred construiu numa carreira brilhante. Mas é incrível como um filme nos dá uma sensação de saciedade, que nos diverte, que nos faz simpatizar com os personagens, e nos envolver completamente. E nesse "musical sem música", podemos apreciar a valsa Danúbio Azul sendo executada na íntegra... muito antes do sintético 2001, Uma Odisseia no Espaço [Stanley Kubrick, 1968].
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