O Manifesto do Teatro do Êxodo
O teatro cristão revolucionário
I
UMA DEFINIÇÃO; UMA PROPOSTA
UMA DEFINIÇÃO; UMA PROPOSTA
1.“Teatro do Êxodo” é uma proposta para um teatro cristão revolucionário
2. A proposta é sair do Egito. Do marasmo cultural em que a igreja moderna se encontra. Da escravidão comercial.
3. Temos uma terra ampla para ser conquistada.
II
PRESSUPOSTOS INTERESSANTÍSSIMOS
1. O teatro cristão não é contestador, é reafirmador.
2. Ele reafirma valores cristãos. Se existe um teatro que os contestasse, não poderíamos chamá-lo de cristão.
3. Ele é um fenômeno dentro da igreja.
4. O teatro cristão, em tese, deveria reafirmar valores cristãos universais, ao invés de flutuações teológicas isoladas dessa ou daquela denominação.
5. O teatro cristão é conservador em matéria de conteúdo, moralmente falando. As Escrituras Sagradas formam seu pano de fundo, sua razão de ser, sua mensagem, seu espírito.
6. O seu motivo de existência está na evangelização.
7. E o teatro cristão sempre será uma reflexão moral. Um panorama dos costumes de uma sociedade.
III
A REVOLUÇÃO ESTÉTICA
1. Partamos então de um paradoxo: Se o teatro cristão é conservador por natureza, como então ser revolucionário?
2. O teatro cristão não é uma arte desligada das outras. Ou não deveria ser.
3. Não é matando o seu diálogo com outras artes que o faz mais santo. E, se ainda o fizesse mais santo, tornar-se-ia inacessível.
4. Santidade se expressa no conteúdo. A casca só consegue enganar.
5. O teatro cristão não é uma análise histórica da Bíblia; é, antes, a análise bíblica da História.
6. É um instrumento de reflexão sobre os dias de hoje. Os ensinamentos bíblicos ajudam nessa tarefa.
7. É com ele que precisamos contextualizar a Palavra de Deus no nosso tempo. Não somente fazer paráfrases ou apresentações alegóricas da narrativa bíblica.
8. Criativos para o Criador. Eis um mandamento mágico.
9. Apóstolo Paulo está certo quando diz: “Tudo é lícito, mas nem tudo convém”.
10. Para efetivar a nossa mensagem, devemos escolher a melhor forma para a expressão. Ora, comunicação é se fazer entender.
11. O teatro evangélico que se prega atualmente matou o lirismo. Cristianismo não é geometria. Teatro cristão não é didática grosseira. Se há quem pregue isso, demonstra que do nada veio e caminhará para o lugar nenhum.
12. Êxodo.
13. Atualmente, prega-se uma postura desnecessária de ditadura moral nas nossas peças evangélicas. O discurso agressivo. O aparentemente infalível “tapa na cara”.
14. Precisamos demonstrar repúdio ao preconceito e à discriminação.
15. Um NÃO sonoro à vulgaridade.
16. Não é “fazendo sombra” nas pessoas que as aproximamos de Jesus.
17. Humilde é uma coisa; humilhado é outra.
18. A estética do teatro cristão revolucionário tem que ser uma máquina movente. Não parar quieta. Surpreender-se. Voltar-se esteticamente contra si mesma e completar-se. Contestar-se.
19. Se em matéria de conteúdo, o teatro cristão não pode ser além que conservador, no quesito forma tem que ser agressivamente contestador. Revolucionário. Rebelde.
20. É “comendo” elementos culturais que o fará mais forte.
21. Se indigestão existir, uma crítica nascerá com certeza. Em outras palavras, o saldo nunca será zero, nunca será negativo.
22. A Arte é como uma massa cuja qualidade maior é a grande facilidade em ser modelada.
23. Alguém se lembra do “Manifesto Antropofágico”?
24. Aculturar-se.
25. Desenvolver a capacidade de nos infiltrar nos anseios de uma geração. É ser um espelho de uma época. É ser lente analítica, mas também caleidoscópio.
26. A vida nos convida a rir e a chorar. Por que o teatro cristão tem que ser tão carrancudo? Não tem razões para tanto.
27. Comédia? Ora, os latinos já diziam: ridendo castigat mores. Drama? Ora, a vida nem sempre é um mar de rosas, e Deus se mostra amigo no momento da aflição. Ação? As controvérsias sempre haverão de existir.
28. Questionar o capitalismo? A teologia da prosperidade irá se ofender.
29. “Tudo é lícito, mas nem tudo convém”.
30. O teatro cristão precisa se alimentar da cultura do mundo, para depois se voltar contra ele. Contra ele? Sim, mostrando o recorte que será a base para uma reflexão evangélica!
31. Os clássicos. Os best-sellers. Aquilo que é Cult. William Shakespeare. A Rede Globo. A literatura de cordel. Michael Jackson. Jacques Brel. Andy Warhol. Gil Vicente. O Cinema Novo. Harry Potter. Miriam Makeba. Macunaíma. Futurismo russo. Surrealismo alemão. As novelas mexicanas. Amy Winehouse. Ariano Suassuna. Dom Quixote de la Mancha. As crônicas da Folha de São Paulo. Adoniran Barbosa.
32. Não só do gospel.
33. Os ritmos, nacionais ou mesmo os estrangeiros. Bossa nova. Samba. Rock. Soul. R & B. Folk. Black. Psy Trance. Reggae. Salsa. Música clássica...
34. Qualquer coisa.
35. Amacio Mazzaropi. Diante do Trono. Frank Sinatra. Beirut. Kierkegaard. Aline Barros. Woody Allen. Augusto Boal. Mercedes Sosa. Brecht. Mozart. Spielberg. Brooke Fraser. O folclore. A publicidade. O cinema. O hip-hop. O rádio. O carnaval...
36. Anular as barreiras artísticas.
37. Beber de todas as fontes culturais. Transbordar-nos da Água da Fonte.
38. “TUDO é lícito, mas nem tudo convém”.
39. Sempre novas ideologias artísticas. As nossas convicções nós sempre carregamos no peito. Ação com maturidade espiritual.
40. Pois é aculturando essa sociedade que tornamos a nossa mensagem universal. É convertendo o aparente paganismo da arte secular para usá-la como instrumento de evangelização.
41. Não é difícil aceitar essa idéia.
42. Algo meio que “Renascença”...
43. Pegar o que nos interessa. Jogar fora o que agride a nossa fé. Não somos obrigados a aceitar tudo. Mas, demonizar tudo demonstra falta de discernimento.
44. “Tudo é lícito, mas nem TUDO convém”.
45. Porque, de certa forma, teatro cristão tem a função de convencer e persuadir. Iludir nunca; obrigar jamais.
46. Evangelizar. Simplesmente.
47. É dar um recorte dos problemas humanos com um olhar espiritual. Daí ser necessário prezar o humano.
48. O amor, a nostalgia, o desencanto, a paixão, o ódio, o desespero... Em toda a sua simplicidade “complexa”, o ser humano deve ser retratado, mostrando aquilo que mais ele tem de seu.
49. Devemos ter o magnetismo da televisão. O arrebatamento sentimental do cinema. A sublimação da poesia. Tudo isso conduzindo e sendo conduzido ao mesmo tempo pela pregação da Palavra de Deus.
50. A única substância transbordante, o conteúdo apresentado, o espírito presente em qualquer peça de teatro cristão: as Escrituras Sagradas.
51. Não devemos fazer do demônio um superstar. “O jardim do inimigo” não nos será um exemplo bem acabado de peça teatral. É uma controvérsia desnecessária superdimensionar figuras demoníacas numa peça. Falamos a Palavra de Deus; a atuação do diabo no mundo é conseqüência.
52. E não falarmos do diabo, e a presença de Deus ser conseqüência.
53. Por essa razão, evitar os expedientes sensacionalistas.
54. Por essa razão, evitar o maniqueísmo desproporcional, a espiritualidade esquemática.
55. A nossa atenção tem que estar na vida. A Vida faz o papel dela mesma em um palco o qual o contra-regra é o próprio Deus. Não esquecer os dramas da vida moderna. A desigualdade. A morte. A guerra. A televisão. O vestibular.
56. Deus é também Personagem da História.
57. Ele é também Autor, mas a Vida é escrita a quatro mãos. O Livre-Arbítrio é quem não deixa mentir.
58. O lirismo!
59. “Everything” nos ensina bastante. Mas já é hora de trilharmos novos caminhos. Imitar é um bom começo; mas deve haver o momento da libertação.
60. Os evangélicos lideram a posse dos meios de comunicação. Mas... Quem disse que a Comunicação pertence a eles? Deus não escreve novelas. Mas há um perigo em se pensar dessa forma.
61. Che Guevara tinha a razão: “Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética”. O Teatro do Êxodo nascerá como um movimento jovem. Ser jovem é nunca deixar de sonhar.
62. Afinal:
Porque Ele vive, posso crer no amanhã
Porque Ele vive, temor não há
63. Evangelizar é meta. Linguagem é trabalho. Formato é exame classificatório. E a criatividade?
64. Edir Macedo está certo quando diz que “a verdadeira fé não é antiintelectual ou anticultural”... Mas fica ambíguo quando completa: “mas [a verdadeira fé] coloca as coisas no seu devido lugar”.
???
65. Teatro é oferta. Oferta não é só dinheiro. Teatro cristão: uma oferta intelectual. Para ser oferta, tem que ser o melhor. Impossível, sem a ajuda da razão.
66. Aqui a razão não explica a fé; nem a fé tenta alcançar a razão. As duas andam de mãos dadas, como se fossem duas irmãs bem companheiras.
67. Porém, expulsemos de nosso meio a mediocridade e a “teologia de gabinete”.
68. Não há espaço para o “militarismo evangélico”, o “cristianismo pasteurizado”, o pedantismo teológico, a inquisição moral e outros fenômenos da “vanguarda cristã do atraso”.
69. A administração nasce da essência. Ora, conhecendo a essência, pode-se recriar o sistema administrativo, as suas hierarquias. Mas a administração às vezes age sem a essência, ou fugindo dela. A recriação dá lugar à idolatria sistêmica.
70. O teatro cristão revolucionário tenta lutar contra isso.
71. O Teatro do Êxodo é um movimento de vanguarda.
IV
O MOVIMENTO. A MISSÃO
1. Não vamos fazer do teatro cristão revolucionário um movimento universitário. Nem um movimento de periferia. Nem um movimento regional.
2. É um movimento pluri-trans-multi-mega-blaster-intergrupos. Será que você entende isso?
3. Uma casa com milhões de portas abertas. Se há a preocupação universitária, há a revolta social da periferia, há um pouco de tudo, não tudo de coisa alguma como vemos nos quatro ventos evangélicos.
4. Nosso movimento é uma reação a uma indústria cultural gospel retrógrada e alienada.
5. Já passamos as portas de entrada do século XXI. E ainda é escandalosa a dificuldade de falar da Bíblia para o “pessoal alternativo”.
6. Cadê os evangélicos nos pólos culturais?
7. Cheguemos então à proposta de um Evangelho globalizado!
8. Muitas das nossas moças evangélicas se vestem à moda européia pré-anos 50. Brasil é um país tropical, o sol abrilhanta esse nosso céu de poesia. E em que anos estamos?
9. A “sessão do descarrego” parece nos ensinar que para lutar contra os cultos afro-brasileiros, deve-se parecer um pouco com eles. Mas... O que temos nós com isso?
10. A Bíblia é a Verdade Revelada. Tem respostas às nossas perguntas. O corre-corre paulistano. Os ataques do PCC. As praias de Copacabana. O Exército nos morros. Amazônia em chamas. Catástrofe em Santa Catarina...
11. Ser humano é muitos e um só: Uma alma sedenta por Deus.
12. Ide. Pregai o evangelho a toda a criatura.
13. O movimento pretende só evangelizar. As grandes igrejas. Os movimentos emergentes. Tudo tem algo para nos ensinar.
14. Vida com Deus não está restrita apenas nos bancos de um templo, nos seminários, nas palavras de missionários barbudos ou de teólogos de sorriso televisivo.
15. Roberto Carlos está com a razão: “eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar”.
16. Porém, é de se refletir o seguinte mistério: Por onde andava a Igreja na Ditadura Militar?
17. Ana Paula Valadão demonstrou, em um episódio recente, uma “Unção do Leão”. As controvérsias se acenderam por causa disso; houve quem dissesse que não passava de um desempenho artístico questionável. Mas... O que temos nós com isso?
18. O movimento tem que evitar o que muito acontece às igrejas: nascem elas de uma rebeldia e reprimem cedo ou tarde a contestação.
19. E se nós fazemos a “publicidade” da Bíblia, não sejamos, pois, partidários. “Vestir a camisa” muitas das vezes tira o nosso dom de dialogar. Mais vale a fé em Deus do que qualquer placa de igreja e uma data distante e um nome, não é verdade?
20. No passado, pensava-se no Cristo além da cultura. Depois, fez-se uma cultura de Cristo. Ora, o capitalismo fez coisificar todas as coisas; a fé tornou-se produto, o preço regateado em côvado.
21. É como se a fé vivesse à sombra das tendências.
22. Nos nossos tempos, há quem defenda uma cultura com Cristo. Mas não há uma postura firme de ninguém para descobrir o Cristo Cultural.
23. E isso o que realmente importa, artisticamente falando.
CONCLUSÃO
POR UM NOVO AMANHÃ, FOREVER YOUNG!
1. Há já o conhecido adágio: “Deus escreve certo em linhas tortas”.
2. Mas o meio sempre muda.
3. Já se foi a época das tábuas de pedra, do papiro, do pergaminho, do papel amarelo... Hoje temos o papel pólen da Cia. Suzano... Temos o formato .DOC, .PDF, a página na web...
4. A reflexão nossa, amigo leitor, deve começar onde este manifesto termina:
5. Deus é o mesmo! Os tempos mudam a cada segundo!
6. Nossa arte parte daí!
Muchas gracias!
Amém,
F.A.M.
São Paulo, Cinco de outubro de 2009.
Comentários
Preciso refletir um pouco mais na sua proposta, mas em linhas gerais eu concordo.
Uma pergunta...o teatro, as artes, enfim, a revolução cultural, se mantém sob ou sobre a fé?
A fé é dogmática, o teatro não; a fé requer disciplina e uma vida espartana, as artes são livres por definição.
Uma reparação: não acho que devemos lutar contra os "cultos afro-brasileiros", pois também fazem parte da nossa cultura, evangélica, ok?
Um adendo: a "revolução cultural conservadora-vanguardista evangélica-liberal" consigrá a façanha de mudar o panorama das liturgias dos cultos?
Abçs
Anderson.
O MANIFESTO É GENIAL!