Uma nostalgia

Mexendo nos meus papéis, vi, já amassado pelo tempo, o discurso que fiz no dia do meu TCC. Aliás, foi o dia do TCC de todo mundo, onde, diante do projetor e dos equipamentos construídos, podíamos ver caras tensas de quem acaba de sair de um "enrosco". Passarinhando pelo auditório, vestidos de social, meus colegas chegaram, conduziram e finalizaram os seus trabalhos, estando eu no meio deles.
Lembro que rascunhei às pressas o discurso, pois me fora designado isso de supetão. Peguei meu papel - de caderno mesmo - e disse, com uma voz seca de quem pede água. E emocionado:
- " Hoje é um dia que ficará marcado na vida de nós todos. Hoje é um dia em que todos os alunos trazem a alegria de ter conquistado o ser técnico em ELETROELETRÔNICA, mas também é aquele dia onde tem, carrega e paira com teimosia, a triste marca de um adeus.
Isso nos leva a viajar no tempo. A irmos a uns três semestres atrás, e vermos como tudo começou. No início onde tudo era novo e desconhecido, tudo parecia provocar com o nosso raciocínio. Diodos, disjuntores, leis de Ohm, portas lógicas e tantas outras coisas que foram abrindo as portas do vasto mundo da Elétrica e da Eletrônica.
Naqueles dias nos enturmamos, conhecendo novas amizades, e talvez nem passou na cabeça de um dos aqui presentes que essa turma seria a mais unida da ETE JOSÉ ROCHA MENDES de todos os tempos. Lastimamos profundamente pelos nossos outros colegas que, no decorrer do curso, tiveram que abandoná-lo por diversos motivos e que não estão participando deste momento estupendo. A eles damos essa citação, em memória dos velhos tempos - que por serem velhos, eles passaram na pressa de um raio.
E também lastimamos por deixar o curso, os amigos, todos os momentos maravilhosos de nossas tardes, que nunca mais serão esquecidos.
Esses três semestres tiveram a força de um roteiro de filme. As explicações dos professores, as conversas dos alunos, as provas, um primeiro MB, a primeira "bomba", as broncas que recebemos, as cabulações coletivas e mais broncas recebidas - tudo faz lembrar do percurso que fizemos para aqui chegarmos, e aqui mostrarmos o que aprendemos.
Os professores demonstraram paciência. Sabiam que a sala iria progredir, se ninguém tivesse de pensamentos para o ar. Quantos foram os "sopapos verbais" que recebemos, e o assombro com que reagimos? Só agora entendemos que tudo isso foi para a nossa formação profissional, uma grande vitória em nossas vidas.
Poderíamos nos estender muito, relembrar casos, rir de uns e refletir sobre outros, mas o que se passou nestes três últimos semestres é tema para escrever livros de centenas de páginas com letra míuda, porém cheios de vida e de amizade. Só que tudo isso que fizemos, o que agora fazemos e que faremos também não teria a razão de ser se não houvesse uma lição que aprendemos, não em livros ou em choques elétricos, nem nas queimas de multímetros e capacitores, mais aprendida no RETIFICADOR MAGNÉTICO DA ONDA QUE REGE OS CIRCUITOS DE NOSSAS ALMAS: porque a amizade prevalece acima de tudo e de todos, como a nossa. Aqui, onde o convívio por um ano e meio parece terminar, onde cada um encontrará o seu caminho a seguir. Aqui somos mais do que colegas. Somos mais do que amigos. SOMOS COMO UMA FAMÍLIA! Mais: somos filhos de alguém que ensinou a sermos assim. Que nos ensinou também que na união se faz a força. Sempre! Não importa quão difícil pareça a vida. Há sempre motivo para perseverar. E acreditar nos nossos sonhos. Aos professores, esses nossos pais na profissão, dedicamos essa sincera salva de palmas, em agradecimento."
O auditório veio a baixo, em salvas de palmas.
Dizem que o professor de Sistemas Digitais e Microprocessados, o durão Prof. Léo, chorou no meu discurso. Porque eu e muitos ali estivemos a pique.

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