"A raposa e as uvas" (1982)
Morre um dos últimos ícones da música brega. O
cantor e compositor pernambucano Reginaldo Rossi deixa um legado musical de
grande interesse. Como homenagem, quero fazer uma análise a um de seus mais
famosos trabalhos, o álbum de 1982.
Reginaldo Rossi teve sempre sua música ligada
ao sentimentalismo ora banal ora tachado de "mau-gosto" da nossa
música (realmente) popular. Sua música tem uma pegada "rockinho"
sessentista (herança da Jovem Guarda) que o aproxima de Amado Batista, apesar
de ser mais bem-humorado e sacana que ele.
No entanto, comparado com os seus pares como
Waldick Soriano, Agnaldo Timóteo e Nelson Ned, é mais moderno, mais rítmico,
com um pouco mais de auto-estima diante de relações amorosas em convulsão.
Reginaldo Rossi tem mais voz que Odair José, apesar de ter menos o espírito de
contestação deste. Mas dialoga com todos ao entoar o cântico triste da
dor-de-cotovelo, a incrível criatividade de nossa cafonália.
Neste álbum, o amor distante é o tema
recorrente. A saudade é personagem central do álbum, seja porque a mulher está
distante no tempo ("A raposa e as uvas") ou no espaço
("Procurando Você"). A fragilidade das relações, os erros e o perdão,
são temas gastos em nossa música que são embaladas com sua voz e com sua
orquestrinha à la Ray Conniff...
"Um tempo de emoção" e "Chega
de Problemas" evocam o rock'n roll dos 1950. "A volta", uma de
suas mais famosas realizações, é letra de Roberto Carlos, tornando evidente a
relação de sua música com a do Rei.
Acredito que Roberto Carlos já forneceu todo o
material que a música romântica precisa para os próximos cem anos. Os cantores
bregas, cafonas e românticos que continuarem surgindo ficarão ainda agarrados à
cartilha de RC, coisa que com Reginaldo Rossi não foi diferente.
No entanto, Reginaldo Rossi somou sua voz ao
coro dos trovadores de nossa latinidade. Deixando sua marca inconfundível.
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