Os Trapalhões e o Mágico de Oróz (1984)
Um dos
inesquecíveis clássicos do quarteto, “Os Trapalhões e o Mágico de Oróz” (1984)
é um filme ambicioso, por querer tomar duas frentes. A primeira, de ser paródia
do “O Mágico de Oz” (1939). A segunda, de ser uma espécie de crônica/denúncia
social da seca no Nordeste.
O esqueleto
narrativo tem inúmeras “quebras”, o enredo parece um tanto quanto
descontinuado, caótico, desleixado. O humor ao mesmo tempo chulo, ingênuo e
pastelão do quarteto torna justificáveis os diversos recursos fantásticos,
circenses e místicos utilizados no longa. O tom fabulesco é predominante, e
talvez seja essa a sua maior qualidade.
Do sertão
mistificado à cidade grande idealizada, do vilão monotom ao idealismo cândido
dos Trapalhões, o filme inteiro é síntese do que há de melhor e de pior no
cinema brasileiro dos anos 1980. E pega de carona alguns elementos utilizados à
exaustão pelo comediante Amácio Mazzaropi (1912-1981) nas décadas anteriores,
principalmente o “maniqueísmo quadrado”.
Mas é no
final que o humor dos Trapalhões parece fraquejar. A seca parece ser um inimigo
muito mais poderoso para ser derrotado com apenas piadas. O fracasso da
torneira gigante faz com que o heroísmo dos Trapalhões, imbatível em todos os
outros filmes, despenque. E fica no ar uma melancolia sentida, desempenhando um
eficaz papel dramático.
Apelar para a fé, para as palavras ditas em
mantra católico popular, faz com que um trêmulo happy end inverossímil –
a chuva que cai no sertão e o frevo de alegria que se levanta na cidade –,
surja como tábua de salvação. A frase final, além de tornar redundantes as
pretensões do filme, torna-o melancólico, triste, tremeluzindo uma lágrima no
olhar do espectador e é esse drama de minutos que nos fala mais que uma hora e
meia de palhaçadas.
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