Sai da Frente (1952)
Sai da Frente é a primeira experiência
do comediante Amácio Mazzaropi (1912-1981) na tela grande. Com muitos anos de
experiência no teatro mambembe e no circo, com fama já consolidada no rádio,
Mazzaropi, então com quarenta anos, encarna o humilde motorista Isidoro
Colepicula, proprietário de um caminhão caindo aos pedaços chamado “Anastácio”.
Filme da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, com direção e roteiro de
Abílio Pereira de Almeida (nome famoso do Teatro Brasileiro de Comédia), é um nonsense
situado numa São Paulo que ainda não é uma complicada metrópole. Com direito a
sanduíches enormes, despertadores gigantes, um automóvel que reage
automaticamente ao mundo, um escritório cheio de pessoas com nomes de meses, e
os mais variados tipos urbanos, como policiais, funcionários públicos, um judeu
e uma atriz de circo.
O roteiro é frouxo, oscilando na qualidade da construção dos diálogos.
Partindo da ideia de levar uma mobília para Santos e se envolver em variadas
confusões, a história é construída para ser uma sucessão de gags aparentemente
independentes, tendo apenas Isidoro e Anastácio como frágil fio condutor. O
jeitão caipiresco de Mazzaropi ainda está engatinhando, e ele consegue ser
engraçado mesmo com visível desconforto em falar frases pomposas do mestre
Abílio.
Com algumas críticas sociais aqui e ali, ao retratar a burocracia nas
repartições públicas ou o palavrório vazio e tendência à corrupção dos
políticos, o filme também tem dois momentos de tietagem explícita (ou
sutilíssima ironia?): o quadro de Getúlio Vargas em uma repartição e o cachorro
“Coroné” saudando-o em outra cena.
Tudo tem uma cara de test drive. Da poderosa Vera Cruz em testar
a sua mais nova aquisição, que lhe custou tanta grana; do mestre Abílio que
procura dar ao filme um tom circense, pastelão, um diálogo de programa
radiofônico, para tornar o astro mais à vontade; e Mazzaropi, mais desajeitado
em ser ator frente às câmeras, do que ser um personagem desastrado.
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