Chove Chuva

Lá fora
chovem pássaros mortos
caindo todos nas profundezas do abismo.
Eu andava de mãos dadas com um vulto de mulher
quando senti seus dedos disfarçados
que me repeliam, se afastavam.



A solidão foi então quem me abraçou em uma dessas esquinas.


Foi muita a tristeza, imensa,
como vermes que precocemente roem
o coração que ainda bate...


Saí pelo mundo
à procura de alguém para confiar,
conversar dos meus medos, dos meus segredos.
Mas só assisti a mil monólogos
e tive que engolir minhas palavras, em seco.


Eu sei
que procurei em vão uma voz,
uma viagem, um torpedo,
que me acalentasse e me levasse para longe daqui.
Mas só plantei sementes tóxicas
com adubo, estufa e carinho
em um jardim que bem me servia de sepultura.


Enquanto lá fora,
chovem pássaros mortos
que precipitam nas calçadas, caem nos telhados com um barulho surdo,
enchem as sarjetas, cobrem os carros, desmancham varais.


A solidão rasga a minha pele com precisão milimétrica,
quando assisto tudo isso com um beijo amargo preso no lábio:
rasga com os cacos de tanto sonho quebrado,
tanto verso dolorido,
tanto amor desperdiçado.

Comentários

Lipe disse…
voltei a ler as coisas por aqui!

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