Autopsicobiografia Mascarada
Não, por favor, não me façam calar.
Nem invadam o meu quintal com os seus cães de caça.
Eu só quero ser eu mesmo nesse mundo de loucos.
Eu queria
ah! como eu queria!
Ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar
como diz aquela canção do Roberto.
A vontade ingênua e pueril
de pegar na mão de cada irmão pela cidade.
Mas eu só vi membros despedaçados e o sangue tingindo as ruas
e eu não pude sufocar meu pranto.
Eu queria acreditar nas palavras que ouço
Eu queria fazer o verso que traduzisse a minha felicidade e o meu desespero.
Eu não queria ter amigos só para preencher lacuna da rede de relacionamento
nem por breves momentos que correspondem a uma vida inteira para se arrepender.
Eu queria encantar todo mundo
com a minha irreverência, o meu bom-humor e a minha nostalgia.
Eu queria que a minha poesia falasse de tudo e de coisa alguma
falasse da vida, de Deus e do Amor.
Caiu minha lágrima, e era o oceano.
Vocês soltaram os seus cães de caça
Eles logo acabarão comigo
Mas não posso deixar de ser eu para engolir o que são de vocês
Pois tenho em meu peito
um sonho, uma vida, e valores guardados.
Eu confiei nos meus inimigos
e deles ganhei palavras de ânimo
que sararam a ferida da faca maldita
desferida nas costas
por gente que me era querida.
Eram vocês essa gente.
Mas o relógio esconde a beleza.
A poeira do Tempo enterra tão cedo
aquilo que um dia erroneamente foi chamado de eterno.
Eu encaro vocês nos olhos
não vejo nada. Não vejo ninguém.
Olho para as suas mãos, eu vejo as coleiras
que prendem os cães que me matam e me mordem.
Olho para o espelho. Eu vejo a Morte e a Vida
de mãos dadas
em um mundo colorido, porém desbotado
como os primeiros televisores a cores dos anos 70.
Caio sobre os confetes, o céu é tão lindo, vocês estão mortos.
Pra frente Brasil de ponta a ponta do meu coração.
Tiros cantam nas ruas.
E é carnaval.
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