Crepúsculo?

- "O quê? Crepúsculo?"




Nem eu acreditei. Mas foi assim que suspendi por instantes as minhas exigências cinematográficas, para engolir os 121 minutos dessa película. O livro, de fato, eu tentei ler. Até porque as obras de Stephenie Meyer tinham virado febre, e essa foi a razão da minha curiosidade. Porém, com a minha leitura morta no terceiro capítulo, vi que aquilo não era para mim.

Por isso, não creio em como fui capaz de chegar até o final do filme. Com a direção assinada por Catherine Hardwicke (Aos Treze, Os Reis de Dogtown), o filme é fabricado para fãs. Só eles mesmos podem enxergar complexidade ou, no mínimo, verossimilhança na parte inicial do amor entre Bella Swan (Kristen Stewart) e Edward Cullen (Robert Pattinson). Lá é tudo muito rápido; soa até mecanicista, como se o roteiro apenas esboçasse o livro de modo meramente funcional. O começo, de fato, é muito enfadonho. Ela chega em Forks; seu estado de espírito, meio deprê, meio desgostosa, é um contraponto ao comportamento cenicamente hospitaleiro dos alunos da escola... exceto pela figura misteriosa, às vezes seca, às vezes esquiva ou mesmo perseguidora de Edward.

Como certa pessoa disse, quem ama a genialidade de Bram Stocker, Francis Ford Coppola ou mesmo de Anne Rice; quem adorou, no mínimo, a ação estonteante de Blade Runner, sentir-se-á deslocado com "Crepúsculo". Ora, "Crepúsculo" apresenta um "Vampiro 2.0", destruindo certeiramente o ambiente tétrico, sombrio e clássico do mundo vampiresco. Meyer aproveitou perfeitamente a beleza esfuziante e a sensualidade inerente da figura vampiro, embora quisesse atenuar tudo isso com uma shakespeareana história de amor. Shakespeareana e extremamente teen.

O apelo juvenil dos amantes perigosos é a razão principal por arrancar tantos gritos entusiasmados de pré-adolescentes fanáticas. Sim, porque angaria simpatia de garotas com hormônios em ebulição... e algum rapazinho emo. Talvez o Robert Pattinson seja hoje, com essa série, o que anos atrás foi Leonardo DiCaprio, na era Titanic. Aliás, todo esse ambiente de amor, intensidade e morte rondando faz com que as duas tramas se aproximem uma da outra. Pelo menos no quesito do par romântico que é a linha condutora do enredo. Porque de resto, principalmente em se tratando de orçamento e qualidade na direção, os dois filmes são extremamente distintos, não há dúvidas!

Se Bella era a protagonista, tudo parece que foi construído para fortalecer a figura de Edward. Aliás, a atuação de Bella não é tão marcante; talvez por ser sua personagem tão comum e desinteressante.

O enredo de "Crepúsculo" só se torna original com o par romântico formado pela garota-humana e pelo garoto-vampiro. Fora isso, a estrutura é muito clichê, e com certeza será um futuro classicão de Sessão da Tarde. A garota sonsa, atrapalhada, deslocada; o herói trágico, monstruoso, sobrenatural, misterioso, perigoso e paradoxalmente romântico; a cidadezinha chuvosa, cercada por um verde que já evoca animais perigosos e mistérios noturnos...

Talvez querendo demolir certos clichês sobre vampiros é que o filme reafirmou outros clichês românticos e típicos de filmes juvenis. As lendas sobre vampiros temperadas com uma dose cavalar de "Um Amor para Recordar". Mas há quem enxergue que nessa luta interna de Edward (pelo sangue de Bella) haja a controvertida metáfora da tensão sexual adolescente.

Definitivamente não sou fã da série. Mas, às vezes, é preciso olhar com menos severidade esses fenômenos populares porque, se atraem tanta gente, é porque conseguem conversar com seu público, de uma forma ou de outra. Pois não foi desta vez que escrevi uma ácida dissertação intelectual ou mordaz crítica de cinema ao Crepúsculo. Minha nota de zero a dez foi dois, de fato. Mas não xingo quem é fã, como fazem muitos de meus amigos blogueiros. Até porque,"Crepúsculo"... Mamãe adorou!

Comentários

Grilo disse…
Cara, o problema é que você foi ao cinema para ver o filme,quando na verdade ele é só uma desculpa pra sair de casa e passear. Sobretudo acompanhado. De garotas com hormônios em ebulição, claro. Ou de algum amigo emo, se esta for sua orientação sexual.
Lipe disse…
kkkk

divertido...me fez pensar na áurea titanic x crepusclû....
vc escreve bem esse negócio de criticas!

[um salve aê pro amigs fernando!]O_o
Lipe disse…
acho q eu kis dizer áura!

[nums ei!O_o]
Anônimo disse…
Caro literato, também não me recomendaram este filme; assim, somando sua crítica à percepção de outras pessoas, me levam a postergar a ida ao cinema.
Entretanto, como sem cinema não se vive, fui ver Avatar (3D e infelizmente dublado) e digo de antemão que gostei das belas imagens da floresta de Pandora, realmente, idílicas. Um tanto espirituaóide e com aquela lenga-lenga de Bem X Mal, mas ainda assim, válido.

Abçs

Anderson Eugênio

OBS.: E como está o companheiro Cortezano?

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