Codinome Trabalho


Ainda é madrugada quando ele sai de casa.


Cochilar no ônibus não lhe tira o sono;


E é impossível manter-se vigilante


no volante de seu carro.




As noites, quando sonhos têm,


são eivados de preocupação cancerosa.


O dia uma agonia,


estresse em erupção


para trazer de volta moedas multiplicadas.




E ele vai.


Trabalhar é preciso.


O patrão, sua fé, divindidade em diretório.


E seus olhos cansados começam a se fechar


com displicência, com forjas


Diante da monotonia canibal de seu escritório.




O sol lá fora lhe é inútil.


Férias e fins de semana são expressões de um idioma difícil


Não consta no seu léxico de bater cartão.




O futuro lhe enche de medos e é tão negro.


Sua namorada reclama da sua ausência


E mesmo na cama ela tem um ente distante.




Sob seus passos existe um tapete branco, de papel.


Não se sente seguro para dispensar


sua frouxa armadura de autoridade


ou as suas sanguinolentas toalhas servis.




A torre lhe chama.


Para tanto se reveste de palavras de cobre,


Mas é ilusão.




Passou a vida enterrando os seus sonhos
debaixo da pedra, do podre do tronco.


Trabalhar é preciso. Negar-se é preciso.


Mas já faz muitas luas que seu travesseiro abriga seu sono instantâneo.




Na doença praguejou contra o frio.


Na morte, sete pessoas choraram sobre seu túmulo.


E o vento dos dias cobre sua lápide com um manto de folhas secas


mas de perto notamos que são notas de cem.

Comentários

AnD disse…
"as moedas multiplicadas"... discordo: atualmente, as moedas divididas, subtraídas!....rsrs.

Só o trabalho empobrece...kkk.

Sobre os seus comentários no meu humilde blogue, duas coisas:
1 - É sempre bom ter um linguista ao lado (este negócio de ter um bom linguista por trás pode pegar mal...kkkk)
2 - A palavra "transuda" já é a libido em pessoa....kkk...Imagina vc falando com uma garota
" - Nossa, como vc é muito transuda".

Mas parece uma mistura de "transa" com "bunduda" ou com "peituda" ou "tesuda"...kkkk...desculpe a pouca vergonha...kkkkk!!!

Abçs
AnD disse…
Tira o "mas parece" e troca por "mais parece"....kkkk
Grilo disse…
Sobre seu comentário no meu blog (para o texto eu, outdoor):

é, já vivi mais de 14 dias... mas acho que esse é o tempo que se dura na mente das pessoas. Ou bem menos que isso.

mas nem me coloco como personagem, lá! No título, faço uma brincadeira com o título "eu, robô", de Asimov. Falo das pessoas em geral, que estão cada vez mais bidimensionais.
commando disse…
esse velho parece você

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