Ao Elba, com carinho
O nóia de boné vermelho nunca sorri quando recebe o bagulho. Movimenta o pacotinho de farinha nas mãos freneticamente, analisando, enquanto o cara do "movimento" guarda as notas no bolso, olhando para os lados, com desconfiança. Porém, o de boné vermelho, nesse instante, sorri com disfarce para uma garota lindíssima que passa.
Pela viela inclinada onde o sol raramente bate, Francielle tem pressa de chegar em casa. Garota magra, branquinha mas coradinha em dias de calor, de eterna fragilidade e rostinho bonito. De andar nervoso, é verdade.
- Quero falar com VOCÊ!
De um dos muitos becos da favela sai Joelma, cabelos pintados, brincos argolões, toda muito bem arrumada para arranjar namorado.
- Ih, 'Jó', não dá. Eu tenho que levar isso para a minha mãe e...
O gelo da carne recém-vinda do açougue parecia suar com a sacola, nas mãos de Francielle. Mas Joelma bateu o pé.
- Vem pra minha casa. Quero te mostrar algo. É rapidinho.
Francielle mordeu o lábio inferior levemente, em segundos, pensativa.
- Tá bom.
E se foram.
Como loucas desceram aquelas tortas escadas mal cimentadas, com musgos. Falando sobre rapazes, elas andaram sem precisar de mapa por aqueles becos e vielas, pontes oscilantes e trechos úmidos, um labirinto total. "Hoje eu vi o Ricardinho lá perto da caçamba..." E elas passavam perto das janelas abertas, respirando o feijão cozinhando ou o bife fritando com estalos no óleo, ou vendo nas paredes ora de madeira ora alvenaria o Salmo 23 ou o pôster do Ozzy.
- O que você quer me mostrar tanto, Joelma?
- O presente que o Fernandinho me deu. Lembra dele, né? O da Quermesse...
...E a carne na sacolinha já era um incômodo...
Com as telhas chegando à altura do ombro, as duas meninas passaram por um grupinho de rapazes magérrimos, que fumavam em silêncio ou às vezes falava em gíria pastosa. O cheiro característico da maconha cavalgava a atmosfera.
Francielle não podia andar demais. Tinha 14 anos, e desde que se lembrava por gente sofria de dores próximas ao baço se andava demais. Uma dor fraca começou.
- Podemos ir mais devagar?
Joelma sorriu.
Subiram uma viela muito inclinada. Mocinhas limpavam os cômodos pequenos com muita música em seus rádios portáteis. Chegaram numa rua curvada, passaram por cães, no bar cantava-se e bebia-se com alegria. Camisas de time. O sol brilhava, queimava.
- Manhê! Cheguei! - gritou Joelma no portão de zinco sujo. Mexeu na tramela com alvoroço. - Vamos, Fran! Entra logo! O que foi?
Francielle estava petrificada. Apertava fortemente a sacola da carne. Na esquina, no poste encostado, estava Marcão, o moreninho que ela "pagava mó pau" num agarra-agarra gostoso com uma baixinha de franja.
Pela viela inclinada onde o sol raramente bate, Francielle tem pressa de chegar em casa. Garota magra, branquinha mas coradinha em dias de calor, de eterna fragilidade e rostinho bonito. De andar nervoso, é verdade.
- Quero falar com VOCÊ!
De um dos muitos becos da favela sai Joelma, cabelos pintados, brincos argolões, toda muito bem arrumada para arranjar namorado.
- Ih, 'Jó', não dá. Eu tenho que levar isso para a minha mãe e...
O gelo da carne recém-vinda do açougue parecia suar com a sacola, nas mãos de Francielle. Mas Joelma bateu o pé.
- Vem pra minha casa. Quero te mostrar algo. É rapidinho.
Francielle mordeu o lábio inferior levemente, em segundos, pensativa.
- Tá bom.
E se foram.
Como loucas desceram aquelas tortas escadas mal cimentadas, com musgos. Falando sobre rapazes, elas andaram sem precisar de mapa por aqueles becos e vielas, pontes oscilantes e trechos úmidos, um labirinto total. "Hoje eu vi o Ricardinho lá perto da caçamba..." E elas passavam perto das janelas abertas, respirando o feijão cozinhando ou o bife fritando com estalos no óleo, ou vendo nas paredes ora de madeira ora alvenaria o Salmo 23 ou o pôster do Ozzy.
- O que você quer me mostrar tanto, Joelma?
- O presente que o Fernandinho me deu. Lembra dele, né? O da Quermesse...
...E a carne na sacolinha já era um incômodo...
Com as telhas chegando à altura do ombro, as duas meninas passaram por um grupinho de rapazes magérrimos, que fumavam em silêncio ou às vezes falava em gíria pastosa. O cheiro característico da maconha cavalgava a atmosfera.
Francielle não podia andar demais. Tinha 14 anos, e desde que se lembrava por gente sofria de dores próximas ao baço se andava demais. Uma dor fraca começou.
- Podemos ir mais devagar?
Joelma sorriu.
Subiram uma viela muito inclinada. Mocinhas limpavam os cômodos pequenos com muita música em seus rádios portáteis. Chegaram numa rua curvada, passaram por cães, no bar cantava-se e bebia-se com alegria. Camisas de time. O sol brilhava, queimava.
- Manhê! Cheguei! - gritou Joelma no portão de zinco sujo. Mexeu na tramela com alvoroço. - Vamos, Fran! Entra logo! O que foi?
Francielle estava petrificada. Apertava fortemente a sacola da carne. Na esquina, no poste encostado, estava Marcão, o moreninho que ela "pagava mó pau" num agarra-agarra gostoso com uma baixinha de franja.
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